A gestão mais recente da ABRUC buscou ampliar a visibilidade do modelo comunitário, reforçando suas características únicas, baseadas na participação social, na transparência e no vínculo profundo com as comunidades onde se inserem. Foram inúmeras tratativas com o Ministério da Educação, o INEP, o Conselho Nacional de Educação e diversas frentes parlamentares reforçando o debate de temas essenciais que haviam sido ofuscados: a necessidade urgente de rever os parâmetros da Educação a Distância, a definição de indicadores de qualidade que valorizem o aprendizado real, a diferenciação regulatória das instituições sem fins lucrativos e a construção de políticas públicas de financiamento. Ainda há necessidade de evidenciar os números que representam o setor sem fins lucrativos (em respeito à LDB, art. 19), gerando-se uma compreensão ampliada sobre a importância estratégica das comunitárias no desenvolvimento nacional.
Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente e que aparentemente não se constitui na pauta principal do país. A expansão desordenada do EaD, a necessidade de evolução na definição de critérios acadêmicos para avaliação colocam em risco a credibilidade de cursos que exigem prática, interação humana e acompanhamento pedagógico rigoroso. A ausência de políticas robustas de financiamento regionalizado mantém milhares de jovens longe do ensino superior, especialmente no interior do país. E a atual estrutura de regulação e avaliação, ainda que necessária, não dá conta de medir aquilo que realmente importa: a qualidade da formação, o impacto social e a capacidade de produzir ciência e inovação relevante para cada território. Para que o país avance, será preciso enfrentar essas distorções e assumir uma agenda nacional que coloque qualidade e planejamento da educação no centro das decisões, para o bem do nosso futuro.
Ocorre que atualmente a Educação Superior conta com mais de dez milhões de estudantes, mais da metade destes se encontram estudando na modalidade EaD. Sabe-se por dados do Censo da Educação que atualmente o número de estudantes matriculados em instituições sem fins lucrativos se aproxima de dois milhões, algo próximo do que se tem também em instituições públicas. Recentemente o MEC trouxe uma novidade para o mercado educacional, que são os cursos semipresenciais, que em alguns casos poderiam ser até chamados de semi-ead. O país ainda necessita e com urgência reformular suas políticas de educação para concentrar esforços na qualificação da formação da educação superior, sob o risco de um apagão de profissionais no futuro, algo que já é sentido atualmente. Não obstante o curso de pedagogia ter formado muitas pessoas, (o que mais formou na modalidade EaD), ao observar os municípios brasileiros, há uma carência de profissionais professores, reflexo da política equivocada empregada nos últimos anos. Outro apagão que já se sente é o de engenheiros, que só tende a aumentar pela falta de preparo dos estudantes do ensino médio em matemática, física, química e até em línguas (português e inglês).
As instituições comunitárias continuam sendo, em grande parte do Brasil, um agente educacional com capacidade de formar profissionais essenciais, gerar pesquisa aplicada e impulsionar ecossistemas regionais de inovação. A ABRUC tem reafirmado nestes últimos anos, que investir nessas instituições e com este claro objetivo pode se constituir em uma estratégia de desenvolvimento ainda não alcançada. Urge um momento de replanejar, de preparar uma Reforma Educacional para o país, gerar um novo pacto educacional. É importante destacar que onde há uma comunitária forte, há desenvolvimento, pois sua missão sempre é focada no desenvolvimento e na formação de qualidade. Por isso, o debate sobre a Educação Superior brasileira não pode ser reduzido ao preço das mensalidades ou ao volume de matrículas. Precisa, sobretudo, considerar o papel social das instituições que devolvem à sociedade tudo o que produzem e uma nova condição de formação de líderes, pesquisadores e cidadãos.
O país vive um momento de escolhas. Ou seguimos aprofundando um modelo baseado na expansão descontrolada e na lógica do baixo custo, ou reconstruímos uma agenda que valorize a formação de qualidade e o compromisso com o desenvolvimento nacional e uma ótima formação de profissionais. Há uma clara necessidade de definir os papéis dos agentes que atuam no Ensino Superior, definindo quem atua em ciência pura, ciência aplicada, formação técnica, dentre outras áreas que se fazem necessárias.
A ABRUC terá ainda outros desafios a enfrentar, uma regulação que permita evoluir de forma organizada e não como atualmente ao fluxo do mercado e na busca desenfreada de aumento de números na educação superior. O Brasil precisa, mais do que nunca, de faculdades, centros universitários e universidades que transformem vidas – e não apenas acumulem números.
Por Claudio Jacoski, Doutor em Engenharia de Produção, Mestre em Engenharia Civil e Especialista em Gestão e Liderança Universitária, é Reitor da Unochapecó, Conselheiro do CREA/SC, foi Presidente da Associação Catarinense das Fundações Educacionais Comunitárias de Santa Catarina (ACAFE) e, da Associação Brasileira das Instituições de Educação Superior (ABRUC), atual Presidente eleito do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB).


