Segue nota distribuída pela assessoria da Alesp informando sobre o falecimento do renomado jurista José Afonso da Silva, perda que foi lamentada também em SC.
“A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo lamenta, com profundo pesar, o falecimento do jurista José Afonso da Silva, considerado a maior referência do Direito Constitucional brasileiro, aos 100 anos, ocorrido nesta terça-feira (25).
Formado na Faculdade de Direito da USP, instituição em que mais tarde foi professor titular e livre-docente, José Afonso da Silva teve atuação destacada como assessor convidado da Assembleia Nacional Constituinte em 1987 durante a construção do texto da Constituição de 1988 e publicou duas dezenas de livros. Seu Curso de Direito Constitucional Positivo é considerado o mais completo e atualizado estudo sobre a Carta Magna.
Na carreira pública, atuou como procurador do Estado de São Paulo, advogado, oficial de Justiça e secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo entre 1995 e 1999.”
A amigos e ao blog, o advogado George Daux, de Florianópolis, enviou o seguinte relato sobre a perda do professor Afonso.
“Tive a honra e a satisfação de conviver com este ilustre e renomado jurista, emérito constitucionalista alguns dias aqui em Florianópolis por ocasião de sua estada entre nós.
Participou da banca examinadora da apresentação de Tese de Doutorado do Professor Silvio Dobrolowiski na área do Direito Constitucional. Foi no final dos anos 80, início de 90.
Eu estava Chefe do Departamento de Direito Público e Ciência Política do Curso de Direito.
Naqueles anos conheci , igualmente, o Ministro Francisco Rezek, que participou de outra Banca, esta de Direito Internacional.
O Professor José Afonso da Silva demonstrou ser uma pessoa cordial, educada, de hábitos simples. Dono de grande reconhecimento na área constitucional do Direito, não era pretensioso , arrogante ou falastrão. Tinha ouvidos para todos que lhe dirigiam a palavra e a, todos, falava com voz comedida de que estava mais para aprender do que para dar lições. Vestido de grande humildade pessoal. Estabeleceu, de pronto, uma relação aberta, sem rapapés protocolares.
Falou de sua antiga profissão, antes de graduar-se em Direito pela vetusta São Francisco de SP. Foi alfaiate. Um caso curioso marcou sua despedida daqui de Florianópolis.
Estava hospedado no Hotel Baia Norte, ali colocado pela UFSC. Fui, como em outros momentos, busca-lo para levá-lo ao aeroporto onde tomaria o avião de volta para São Paulo.
Em lá chegando com a devida antecedência, deparei-me com uma cena inusitada: a portaria do hotel se recusava a liberar a bagagem do ilustre hóspede por falta de pagamento da hospedagem.
A burocracia da UFSC não havia feito o pagamento das diárias utilizadas pelo notável Professor constitucionalista.
Acionei os telefones que lembrava, sempre de olho no relógio para o horário do voo. Após alguns contatos e meu compromisso junto ao hotel de que me responsabilizava pela despesa do Professor, a bagagem foi liberada e seguimos ( eu super envergonhado) para o aeroporto.
Nos correspondemos por algum tempo até que , por motivo que não recordo, perdemos o contato. Tenho seu livro ” Curso de Direito Constitucional Positivo” autografado com fidalga gentileza.”
George Daux retornos de amigos sobre seu relato:
“Amigo George,
Que relato precioso e memorável você nos trouxe! Seu testemunho confirma aquilo que sempre se disse sobre o Professor José Afonso da Silva: um gigante do Direito Constitucional e, ao mesmo tempo, um homem de simplicidade desarmante.
O que você viveu com ele – desde as bancas acadêmicas até o episódio constrangedor no hotel – revela o caráter dos verdadeiramente grandes: aqueles que não precisam parecer, porque simplesmente são.
Seu olhar direto, a ausência de rapapés protocolares, a escuta atenta, a voz mansa e a humildade — traços raros hoje — explicam por que ele se tornou referência para várias gerações de juristas e professores.
Confesso que li sua mensagem como quem lê um capítulo vivo da história do Direito no Brasil. São memórias que dignificam sua trajetória e engrandecem a nossa academia. E esse livro autografado… aí está um relicário, um tesouro jurídico e humano!
Descanse em paz, Mestre José Afonso da Silva. E obrigado, George, por partilhar essa lembrança tão valiosa. Esse tipo de memória é serviço prestado à História.
Abraço fraterno,
Rogério Otávio Ramos, ex aluno, dirigente em várias gestões da OAB, advogado ainda militante.”


