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Crescimento sem custo ambiental

JOSÉ ZEFERINO PEDROZO

Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)

A agricultura brasileira caminha para um novo ciclo de expansão baseado na inteligência tecnológica, na eficiência produtiva e no respeito ao meio ambiente. A meta não é ocupar novas áreas, mas sim ampliar a produção de alimentos, fibras e energia dentro dos espaços já explorados. Essa visão está em sintonia com o que o Sistema Faesc/Senar/Sindicatos Rurais sempre pregou. Também está em consonância com um estudo internacional conduzido com a participação de pesquisadores da Embrapa, que analisou metodologias para mensurar e reduzir as chamadas lacunas de produtividade da pecuária — a diferença entre o que uma propriedade rural produz atualmente e o que poderia produzir em condições ideais, com boas práticas de manejo e tecnologias adequadas.

As pastagens ocupam cerca de 70% das terras agrícolas do planeta. Diante desse cenário, a intensificação sustentável surge como o caminho mais racional para garantir segurança alimentar e preservação ambiental. A proposta é clara: produzir mais carne e leite sem derrubar uma única árvore a mais. Trata-se de melhorar a eficiência do que já existe, identificando onde e como é possível ampliar a produção de forma estratégica e ambientalmente correta.

O estudo avaliou diferentes métodos de análise. O benchmarking, por exemplo, compara propriedades de alto desempenho com outras da mesma região, revelando práticas de sucesso que podem ser replicadas com relativa facilidade. A análise de fronteira, por sua vez, emprega modelos estatísticos para avaliar a eficiência técnica e econômica dos sistemas produtivos, oferecendo um diagnóstico preciso sobre gargalos e oportunidades. Esse tipo de análise é fundamental para compreender a realidade brasileira, marcada por baixos níveis de incentivo e riscos produtivos elevados.

Outro método relevante é o agrupamento climático, que considera fatores como clima e tipo de sistema de produção, permitindo mapear regiões com características semelhantes e transferir práticas eficazes. Os modelos de sistemas de produção completam o conjunto de ferramentas ao integrar capacidade de suporte das pastagens e processos ecológicos ao longo do tempo. Tecnologias de sensoriamento remoto têm papel crucial nesse contexto, fornecendo dados mais precisos sobre a disponibilidade de forragem e auxiliando no manejo eficiente.

Para além da técnica, é imprescindível reconhecer que a transformação depende também de fatores socioeconômicos e políticos. A criação de um ambiente favorável — com assistência técnica qualificada, infraestrutura adequada e políticas públicas direcionadas — é condição necessária para a adoção em larga escala dessas metodologias. O país abriga desde pequenos produtores familiares até grandes pecuaristas comerciais, operando em realidades muito distintas. Por isso, a combinação de métodos se mostra a estratégia mais eficaz para atender à diversidade do setor.

A redução das lacunas de produtividade oferece benefícios expressivos. É possível aumentar a produção sem avançar sobre áreas de vegetação nativa, elevar a renda do produtor e, simultaneamente, reduzir as emissões de gases de efeito estufa por quilo de carne ou litro de leite. Essa equação positiva reforça o papel do Brasil como potência agroambiental, capaz de conciliar crescimento econômico com conservação dos recursos naturais.

Investir na intensificação sustentável não é apenas uma resposta às demandas dos mercados internacionais, que exigem produtos com menor impacto ambiental. É, sobretudo, uma decisão estratégica para assegurar a competitividade da agropecuária brasileira e catarinense no longo prazo. Com ciência, tecnologia e políticas adequadas, o País continuará a expandir sua produção, demonstrando que desenvolvimento e preservação podem e devem caminhar juntos.

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