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Eficiência x desafios na produção de carnes

JOSÉ ANTONIO RIBAS JÚNIOR

Presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados em Santa Catarina (SINDICARNE)

A excelência de Santa Catarina e do Brasil na produção de proteína animal é um ativo de inestimável valor que deve ser constantemente preservado e ampliado. O Estado consolidou, ao longo das últimas décadas, um status sanitário privilegiado, fruto da integração exemplar entre produtores rurais, agroindústrias e órgãos oficiais de defesa. Esse esforço coletivo garantiu níveis de sanidade e qualidade que projetam o setor catarinense como referência mundial e sustentam a confiança dos mercados internacionais.

Ao mesmo tempo, o Brasil, enquanto potência agroalimentar, demonstra com clareza sua vocação de alimentar o mundo. A balança comercial atesta o papel central do agronegócio, em especial da cadeia de carnes, no equilíbrio econômico nacional. Produzimos com escala, qualidade e sustentabilidade, superando barreiras impostas por políticas protecionistas e agendas políticas que, muitas vezes, buscam limitar a livre circulação de alimentos. A verdade é simples: comida não deveria ter fronteiras. Quando elas são impostas artificialmente, desequilíbrios se formam, afetando consumidores e produtores.

Cumpre ao setor produtivo fazer sua parte com competência e eficiência. Mas é igualmente necessário que a esfera política e diplomática assegure condições de acesso e manutenção de mercados, construindo pontes, derrubando barreiras e fortalecendo relações comerciais. O potencial de protagonismo do Brasil nessa agenda é imenso, mas depende de decisões estratégicas que ultrapassam a porteira e as linhas de produção.

Entretanto, não se pode ignorar que persistem desafios estruturais que comprometem a competitividade. A precária infraestrutura logística, especialmente em Santa Catarina, é um entrave recorrente. Rodovias envelhecidas, congestionadas e sem manutenção adequada, projetos ferroviários que permanecem apenas no campo retórico e a limitação de portos e aeroportos em acompanhar o crescimento da produção tornam o transporte mais caro e menos eficiente. Essa realidade drena parte dos ganhos conquistados em sanidade e eficiência industrial. Soma-se a isso uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo, que restringe investimentos e onera a produção, colocando o País em desvantagem diante de concorrentes que avançam na simplificação fiscal e regulatória.

Outro ponto sensível é a formação e retenção de mão de obra qualificada. A expansão e a modernização dos parques fabris exigem trabalhadores preparados para lidar com tecnologias avançadas e processos industriais cada vez mais sofisticados. Investir em capacitação técnica e em inovação é condição indispensável para sustentar a competitividade e agregar valor ao produto brasileiro.

Não obstante tais dificuldades, o setor de proteína animal brasileiro tem respondido com resiliência. A capacidade de adaptação e superação é comprovada por vitórias expressivas na abertura e consolidação de mercados. Mostramos competência e robustez para enfrentar barreiras fitossanitárias, exigências de qualidade e oscilações políticas. Mas é preciso cautela: não se pode depender apenas da eficiência do setor privado. Sem avanços na agenda de infraestrutura, tributação e desburocratização corre-se o risco de retroceder e perder espaço para países que, com reformas consistentes, já colhem resultados concretos.

As entidades representativas, entre elas o Sindicarne/SC, têm atuado de forma incansável na defesa de condições mais justas de competição, conscientes de que a luta por mercados internacionais não se vence apenas nos frigoríficos ou nas granjas, mas também nos corredores políticos e diplomáticos. Os êxitos até aqui alcançados demonstram a força da produção catarinense e brasileira, mas a permanência nesse patamar de excelência dependerá da coragem de enfrentar os gargalos estruturais e da visão estratégica de preparar o setor para os desafios que se anunciam.

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