Por Sandro Medeiros Alves – Presidente do SINDAF-SC
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A nova tábua completa de mortalidade divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que a expectativa de vida do brasileiro alcançou 76,6 anos em 2024, o maior patamar já registrado no país. Em 1940, a expectativa era de apenas 45,5 anos, o que mostra um avanço superior a três décadas na longevidade média em pouco mais de 80 anos. Paralelamente, a mortalidade infantil despencou de 146,6 óbitos por mil nascidos vivos em 1940 para 12,3 em 2024, demonstrando que o Brasil consolida uma transição demográfica que transformou profundamente a estrutura da população.
Esse quadro, embora seja motivo de celebração do ponto de vista social e sanitário, carrega consigo um alerta inequívoco aos gestores públicos: uma população que vive mais exige um planejamento fiscal mais robusto, integrado e consistente. A elevação da expectativa de vida projeta, inevitavelmente, maiores pressões sobre os sistemas previdenciários, sobre a assistência social e sobre a saúde pública, que passam a enfrentar demandas crescentes — tanto em volume quanto em complexidade. Um Estado que não incorpora esse novo retrato demográfico no seu planejamento financeiro e orçamentário corre o risco de comprometer a sustentabilidade das políticas públicas e de gerar desequilíbrios estruturais difíceis de corrigir no futuro.
Nesse contexto, Santa Catarina não está imune a esses desafios. O envelhecimento progressivo da população exige que os Estados brasileiros desenvolvam uma visão de longo prazo, baseada em projeções realistas e em informações confiáveis. A gestão das finanças públicas precisa ser capaz de antecipar cenários, avaliar riscos e propor caminhos que garantam o equilíbrio fiscal diante de uma realidade demográfica que não retrocede. A ampliação dos custos previdenciários, os impactos sobre a força de trabalho, o aumento da demanda por serviços especializados e o peso crescente das despesas obrigatórias são elementos que precisam estar no centro das decisões dos governantes.
Os Auditores Estaduais de Finanças Públicas de Santa Catarina, nesse processo, desempenham um papel essencial ao produzir análises técnicas, consolidar dados, monitorar indicadores e assegurar que as informações que sustentam o orçamento e as contas públicas reflitam o cenário real que o Estado enfrenta. No entanto, é importante destacar que o trabalho técnico, por si só, não é suficiente para responder ao desafio demográfico que se impõe. A atuação dos Auditores oferece as bases — sólidas, transparentes e consistentes — para que as decisões sejam tomadas com responsabilidade. Mas é indispensável que as lideranças políticas, nos âmbitos federal, estadual e municipal, assumam seu papel estratégico, adotando políticas estruturadas, coordenadas e contínuas, que deem condições para que o trabalho técnico produza resultados efetivos.
A gestão da longevidade crescente não é responsabilidade exclusiva de uma categoria, de um órgão ou de um setor. Trata-se de um compromisso de Estado, que demanda cooperação, planejamento integrado e visão de futuro. Se o país está envelhecendo, cabe ao poder público garantir que esse envelhecimento ocorra com dignidade, com saúde e com sustentabilidade fiscal. Para isso, o respeito às evidências produzidas pelos órgãos técnicos, a valorização do planejamento e a coragem de enfrentar reformas necessárias são elementos que precisam caminhar juntos.
O aumento da expectativa de vida, comprovado pelos dados do IBGE, deve ser visto como um sinal de progresso, mas também como um convite à responsabilidade. Um Brasil que vive mais precisa de um Estado que planeja melhor. E Santa Catarina tem todas as condições de continuar avançando — desde que o conhecimento técnico produzido pelos Auditores Estaduais de Finanças Públicas seja utilizado de forma estratégica e que as lideranças públicas façam a sua parte, garantindo que as decisões de hoje não comprometam o futuro das próximas gerações.


