Chef Janete Borges realizou cozinha show com prato que uniu a tradição das ostras com insumos inovadores como algas e halófitas
Florianópolis marcou presença no Intercâmbio das Cidades Brasileiras Criativas da Gastronomia pela UNESCO, realizado em 23 de outubro, dentro da Bienal da Gastronomia de Belo Horizonte. O encontro teve uma apresentação dos pontos focais de Florianópolis, Belém, Paraty e Belo Horizonte, integrantes da Rede de Cidades Criativas da UNESCO, além de uma apresentação de chefs de cada uma das cidades, com degustação dos pratos apresentados no Edifício Central, um prédio antigo recém ocupado por empreendimentos gastronômicos que virou um novo ícone da vida cultural belo-horizontina.
Representando a primeira Cidade da Gastronomia da UNESCO no Brasil, Rogério Mosimann, da FloripAmanhã, destacou a prática de Florianópolis atuar em rede, com parcerias e participação ativa em ações de intercâmbio como o de Belo Horizonte. Mosimann citou os principais atributos que sustentam a marca da cidade: mais de 100 praias e paisagens singulares; o status de capital nacional das startups, com maior densidade de empresas inovadoras por habitante e um polo tecnológico que dialoga com a economia criativa. “Falamos também da riqueza da nossa gastronomia, com heranças indígenas, africanas e açorianas, com a força dos frutos do mar — destacando-se como maior produtora de ostras do país — e a combinação de tradição e inovação, como mostrou o prato da nossa chef Janete Borges“, conta.
Ostras defumadas, alecrim do mar e algas
A chef Janete Borges, da Gastroarte Catering, representando a Confraria Sabores de Floripa, preparou uma Vichyssoise (sopa cremosa) do mar, feita com a água da ostra, batatas, alho-poró, creme de leite e servida com ostra defumada, coberta por um pouco de alga marinha (alface-do-mar) seca e um galhinho de alecrim-do-mar, uma halófita, planta resistente à salinidade, com alto valor nutricional e ainda pouco explorada na cozinha regional.
“A ideia de criar um prato que unisse tradição e inovação nasceu do desejo de olhar para o passado e encontrar nele o caminho do futuro. A coleta de mariscos e algas, praticada pelos povos Guarani muito antes da chegada dos açorianos, foi o ponto de partida dessa pesquisa culinária. Os índios do mar já utilizavam a alga seca como fonte de sal, tempero natural e meio de preservação dos alimentos — um conhecimento ancestral e sustentável que inspirou novas possibilidades na cozinha”, comenta Borges.
A receita foi muito elogiada pelos participantes da degustação, alguns com certo receio de experimentar ostras pela primeira vez, mas depois felizes com a experiência e o sabor descobertos. “Levar nossas ostras de uma forma diferente também fez parte dessa proposta. Sabemos que a ostra, assim como ingredientes como língua e fígado, podem despertar certa resistência. Por isso, o desafio foi convidar o público a provar sem medo, a redescobrir sabores e texturas que fazem parte da nossa identidade litorânea”, acrescenta a chef.
Para Janete Borges, falar em inovação é, muitas vezes, retornar às origens. “Resgatar o que temos de mais genuíno e reinterpretar com um olhar contemporâneo, foi exatamente essa a ideia: construir algo novo sem esquecer de onde viemos”. finaliza Borges.


