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FloripAmanhã: mais de duas décadas de governança de bens comuns urbanos

Nossa Florianópolis vive um dos períodos mais desafiadores de sua história urbana recente. Dados do IBGE indicam um crescimento populacional de 27,5% entre 2010 e 2022, chegando a 537.211 habitantes. Tornou-se a segunda maior cidade de Santa Catarina e a sétima do Brasil em crescimento absoluto nos últimos 12 anos. Mais da metade de seus moradores nasceu fora do Estado, revelando uma migração intensa e contínua. O número de domicílios também cresceu 46%, ampliando a pressão sobre infraestrutura, serviços públicos e qualidade urbana.

Esse cenário de expansão acelerada e diversidade crescente reforça a urgência de uma governança coletiva dos ativos urbanos. Um exemplo recente é a Marca “FLORIPA”, criada para representar a cultura, história e economia da cidade. Fruto de parceria entre Prefeitura e Destino Floripa, a marca integra o Plano Estratégico de Turismo, o portal Floripa.com e o bot Estimada, fortalecendo a identidade da cidade como destino criativo.

Elinor Ostrom, Nobel de Economia, demonstrou que bens comuns só permanecem sustentáveis quando geridos com regras claras, governança multinível e participação social contínua. A experiência da campanha comercial “Floripa em Dobro” evidenciou os riscos de uma gestão desarticulada de símbolos coletivos. A recente experiência da campanha, ao evidenciar dificuldades de gestão, ilustra a importância de estabelecer regras claras e processos transparentes para o uso de símbolos que pertencem à coletividade.

A governança da marca é apenas um exemplo concreto de um desafio mais amplo: o de construir mecanismos coletivos, duradouros e legítimos de gestão de todos os bens urbanos compartilhados por nossa comunidade. Mobilidade, patrimônio, espaços públicos e vários outros ativos também demandam a gestão colaborativa.

Felizmente desafios na gestão coletiva de bens urbanos não são novos para a cidade. Há mais de duas décadas FloripAmanhã acumula experiência e atuação estratégica na articulação de iniciativas como o Programa Cidade Criativa da Gastronomia da UNESCO, mostrando sua capacidade de liderar pactos multissetoriais.

FloripAmanhã tem papel estratégico e experiência acumulada para promover a coprodução na construção desses novos instrumentos de governança colaborativa, para que a cidade possa gerir seus ativos respeitando os princípios de sustentabilidade de Ostrom.

Mais que um tempo de celebração, este é um convite para que a sociedade de Florianópolis, ao lado de instituições como a FloripAmanhã, reforce os processos de participação social, criando as bases para a proteção, o uso responsável e a gestão duradoura dos bens comuns urbanos — construindo assim uma cidade cada vez mais justa, sustentável e orientada ao bem coletivo.

Roberto C. S. Pacheco
Prof. Titular do Departamento de Engenharia do Conhecimento da UFSC

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