Num país minimamente sério, essa história seria classificada como ficção barata, daquelas que a gente assiste no fim da noite só para treinar o sarcasmo e exercitar o descrédito. Mas aqui, neste nosso solo tropical onde a realidade sempre se esforça para derrotar a imaginação, eis que surge o enredo perfeito: um banco quebrado com dívida bilionária, um contrato milionário celebrado com o escritório da família de um ministro do Supremo Tribunal Federal e a sensação, quase infantil, de que alguém acha que o povo não está vendo.
Aí ecoa a voz de Galvão Bueno, ainda incrédulo: “Pode isso, Arnaldo?”
E Arnaldo, ao ser sincero, responderia: “No Brasil, o jogo é outro.”
O banco afunda, mas o contrato boia. A instituição ruína operadores, investidores, trabalhadores, mas continua habilíssima na arte de distribuir honorários para quem supostamente deveria simbolizar o ponto mais alto da ética republicana. É quase um truque de mágica: o dinheiro some para uns, reaparece para outros e a plateia é convidada a bater palma como se fosse normal.
E quando alguém ousa questionar, surgem as explicações técnicas, jurídicas, impressionantemente criativas. Parecem aquelas desculpas de criança que quebrou o vaso e jura, com toda convicção, que “ele caiu sozinho”. O problema é que, quem paga o vaso é o contribuinte.
O mais curioso é o silêncio. Um silêncio cúmplice, elegante até demais para quem deveria defender transparência, moralidade e igualdade de tratamento. Se fosse um empresário comum, uma prefeitura pequena, um político sem pedigree, a avalanche seria instantânea. Manchetes, investigações, comissões, discursos inflamados. Mas mexeu com o andar de cima, o tom muda, o ritmo desacelera, o pudor some e a ousadia cresce.
É cômico se não fosse trágico.
É trágico porque reforça a pior sensação que um país pode ter: a de que existe uma casta blindada, capaz de tudo, inclusive de transformar um desastre financeiro em oportunidade lucrativa.
É cômico porque, mesmo sendo tão escancarado, ainda tentam nos convencer de que tudo isso é normal, como se o brasileiro fosse condenado a acreditar em contos de fada sem final feliz, ou mesmo um perfeito idiota.
O fato é que esta história, por si só, já merecia virar case de estudo, porque não de polícia.
Afinal, poucos países conseguem transformar um banco falido, um contrato milionário e a mulher de um ministro em um enredo que desafia lógica, ética e bom senso ao mesmo tempo.
E no fim, a pergunta permanece: pode isso, Arnaldo? No Brasil, pelo visto… não só pode, como vira regra do jogo.
Léo Mauro Xavier Filho


