Por Juliano Perfeito, Médico Oftalmologista e CEO Inovamotion
O envelhecimento da população já não é uma projeção futura. É uma realidade incontornável que desafia sistemas de saúde, governos, famílias e empresas. Em escala global, a Organização Mundial da Saúde definiu 2021 a 2030 como a Década do Envelhecimento Saudável, com a meta de garantir que viver mais não signifique apenas acumular anos, mas preservar autonomia, dignidade e participação social.
No Brasil, a situação é ainda mais urgente. Dados do IBGE mostram que 16,1% da população já tem 60 anos ou mais. Até 2030, o número de idosos superará o de jovens. Essa mudança pressiona a previdência, impacta a economia e, sobretudo, evidencia a necessidade de novos modelos de cuidado em saúde.
Cirurgias, lesões articulares, quedas e doenças crônicas tornam a reabilitação um ponto central da longevidade. O modelo tradicional, baseado em fisioterapia presencial e protocolos rígidos, não é suficiente para atender à demanda crescente. É nesse espaço que a inovação se torna indispensável.
O desafio da reabilitação no envelhecimento
A reabilitação é um dos pilares para envelhecer com qualidade. Envolve recuperar funções após cirurgias, manter mobilidade, reduzir dores crônicas e prevenir complicações.
Na prática, enfrenta barreiras importantes. O modelo atual exige presença constante em clínicas, disciplina para seguir protocolos e tolerância à dor. Muitos pacientes desistem antes do fim do tratamento. Outros sequer têm acesso, seja por distância, custo ou falta de vagas.
O resultado é preocupante. Sem reabilitação adequada, idosos perdem autonomia, aumentam o risco de quedas e complicações e sobrecarregam ainda mais os serviços de saúde.
O caso do joelho é emblemático. Estima-se que até 2032 mais de 38 milhões de brasileiros terão 60 anos ou mais e, desse total, 40% conviverão com dor no joelho. Isso significa que 15 milhões de pessoas enfrentarão limitações para caminhar, subir escadas ou realizar atividades simples do dia a dia.
A urgência de soluções acessíveis
O acesso à reabilitação no Brasil é desigual. Enquanto hospitais de ponta oferecem recursos avançados, grande parte da população depende de sistemas sobrecarregados, com filas extensas e infraestrutura precária.
A inovação precisa chegar até o paciente. Soluções que possam ser usadas em casa ou em clínicas regionais são fundamentais para democratizar o tratamento. Reabilitação não pode ser privilégio de poucos.
Outro desafio é a adesão. Muitos abandonam a fisioterapia porque o processo é doloroso e desmotivador. Tecnologias que oferecem experiências mais confortáveis e personalizadas aumentam o engajamento e, com ele, a eficácia do tratamento.
A acessibilidade também envolve custos. O impacto econômico da dor crônica e da incapacidade é altíssimo. Investir em tecnologias que previnem complicações e reduzem hospitalizações é, na prática, uma forma de economizar recursos e gerar ganhos para toda a sociedade.
O papel da tecnologia na reabilitação
Foi nesse contexto que nasceu a Inovamotion. Criamos a empresa com a missão de transformar ciência em soluções reais, resultado de anos de pesquisa, validação científica e foco na usabilidade.
O Patello é um exemplo. É o primeiro dispositivo médico do mundo capaz de realizar mobilização multidirecional da patela de forma automatizada. Permite ajustes personalizados de intensidade, frequência, direção e duração, adaptando-se às necessidades de cada paciente, seja no hospital, na clínica ou em casa.
O impacto clínico é significativo. O Patello reduz a dor crônica e rigidez, estimula a nutrição da cartilagem, ativa mecanismos anti-inflamatórios e melhora a função do joelho. Além disso, favorece a adesão ao tratamento ao oferecer uma experiência mais confortável e menos desgastante.
O futuro da reabilitação acessível
O futuro do envelhecimento saudável depende de três fatores: políticas públicas consistentes, inovação tecnológica escalável e integração entre profissionais de saúde e pacientes.
No campo das políticas, é essencial que governos incorporem novas tecnologias em programas públicos, reduzindo desigualdades de acesso. Iniciativas como o Programa de Incentivo à Inovação da prefeitura de Florianópolis mostram como as parcerias podem acelerar a chegada de soluções ao mercado.
Do lado da inovação, pensar em escala é crucial. Produtos que funcionem em hospitais de referência e em residências são decisivos para ampliar o alcance.
Por fim, é necessária uma mudança cultural. A velhice não pode ser sinônimo de inatividade ou dependência. Precisamos valorizar o idoso como parte ativa da sociedade e oferecer condições para que ele viva com dignidade.
Envelhecer é inevitável. Cabe a nós, enquanto sociedade, criar as condições para que cada pessoa não apenas viva mais, mas viva melhor.