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O preço da causa e o valor do advogado

Entre a pressão por honorários cada vez mais baixos e a necessidade de sobrevivência, a advocacia vive um dilema que compromete não só os profissionais, mas também a qualidade da Justiça.

Na prática diária, não faltam exemplos de clientes que chegam ao escritório com uma demanda complexa, exigem atenção exclusiva, pressa na solução e, na hora de falar em honorários, tratam o trabalho jurídico como se fosse um gasto supérfluo. O mesmo cliente que aceita sem questionar o preço de um jantar, de um celular de última geração ou de uma viagem, barganha com o advogado como se a atuação fosse um favor e não um serviço técnico, especializado e essencial.

Esse movimento não é isolado. O excesso de profissionais no mercado, impulsionado pela proliferação de cursos de Direito, criou um ambiente de concorrência predatória. Jovens advogados, pressionados pela necessidade de conquistar clientes, reduzem o valor de seus serviços. Escritórios consolidados, diante da avalanche de ações de massa e contratações públicas pelo menor preço, acabam cedendo ao mesmo vício. O resultado é a corrosão do valor percebido da advocacia.

Quando o trabalho do advogado é aviltado, perde-se mais do que a remuneração justa: perde-se a independência técnica. A pressa para fechar acordos, a falta de tempo para aprofundar teses e o improviso na defesa comprometem o próprio direito do cidadão. Honorários aviltados são, no fundo, uma ameaça ao acesso à Justiça.

É hora de um choque de realidade. O advogado não é inimigo do cliente ou do juiz, nem mero despachante de processos. É engrenagem fundamental no sistema de justiça. E se a sociedade continuar a preterir a qualidade do serviço jurídico pela economia no preço do contrato, corremos o risco de transformar a Justiça em mercadoria barata, e como toda mercadoria barata, de baixa durabilidade e qualidade.

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