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O retrato do sistema

Léo Mauro Xavier Filho, empresário.

O jantar em comemoração ao aniversário da esposa de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), recentemente realizado,ultrapassou a dimensão de um evento social privado. Tornou-se um símbolo da engrenagem de poder que insiste em se perpetuar no Brasil. Nada há de errado em celebrar a vida, reunindo amigos e familiares. O problema é o contexto, a imagem que transmite, por parte de homens públicos que assumiram o compromisso de resolver os problemas sociais e econômicos, em um país marcado pela desigualdade, pela descrença nas instituições e por uma tensão social que cresce dia após dia. O episódio expõe, mais do que os convivas, a face de um sistema que parece existir para proteger a si mesmo.

A elite dominante, bem como o dito sistemabrasileiro, não se prende a ideologias. Tanto adireita quanto a esquerda se adaptam aos ventos políticos, preservando privilégios e se colocando como guardiões da democracia e do bem-estar coletivo. Contudo, sob a retórica bem ensaiada, permanece um traço comum: a defesa de próprios interesses, a busca por influência e a preservação das benesses do poder. Os nomes mudam, os discursos se renovam, contudo, a lógica é sempre a mesma: manter-se no centro do jogo, ainda que distante da vida real do cidadão comum.

Enquanto alguns, que assumiram a responsabilidade de resolver os problemas da nação, se reúnem em salões luxuosos, milhões de brasileiros enfrentam filas em hospitais sem estrutura, escolas sucateadas, transporte público ineficiente e salários que não acompanham o custo de vida. O contraste é gritante! A democracia e a justiça social que se proclama nas tribunas, não se traduz no cotidiano da população. A cada gesto simbólico de afastamento da realidade, cresce o abismo entre os que decidem e os que sofrem as consequências das decisões.

O maior risco para o país não está apenas nas disputas ideológicas radicais, que de um lado e de outro sequestram o debate público e paralisam o desenvolvimento. O risco maior está na captura do Estado por grupos que se apresentam como imprescindíveis, mas que atuam para a manutenção de seus espaços de influência. A falsa narrativa de agir pelo povo, esconde, em grande medida, a busca incessante por poder, prestígio edinheiro, tendo a vaidade como pano de fundo.

O Brasil precisa de lideranças que compreendam a gravidade do momento. Não se trata de demonizar celebrações privadas ou mesmo os homens públicos, porém de reconhecer que, em tempos de crise, símbolos importam. Prudência, cautela e responsabilidade deveriam ser princípios inegociáveis de quem ocupa cargos públicos estratégicos. A verdadeira democracia não se sustenta em jantares restritos nem em alianças de ocasião, muitas das vezes, espúrias. Se sustenta sim, no diálogo franco, no compromisso ético e na capacidade de governar para todos. O país não precisa de elites que se perpetuam, precisa de lideranças que se superem.

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