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PCR, o cronista da nossa história, se despede!

Depoimento

Santa Catarina perdeu, nesta quarta-feira, uma de suas maiores referências no jornalismo das últimas seis décadas: Paulo da Costa Ramos. Para alguns, PCR. Para outros, simplesmente Palhinha.

Uma figura única. De trato refinado, sempre receptivo e com um sorriso generoso no rosto. Paulo dominava a escrita como poucos — com um texto digno dos grandes nomes da imprensa nacional, com os quais sempre transitou com desenvoltura. E não só entre jornalistas de destaque, mas também entre escritores renomados.

Crônicas, reportagens, ensaios — ele foi um profissional multifacetado, com uma escrita diferenciada e cativante. Impressionava pela capacidade de tocar o leitor em diferentes formatos, sempre com elegância e profundidade.

O talento vinha de berço. Filho do também jornalista Rubens de Arruda Ramos, o saudoso Ju, Paulo cresceu rodeado de letras, histórias e boas conversas. E teve, no irmão Sérgio da Costa Ramos, outro exemplo brilhante de jornalismo em sua própria casa.

Convivi com Paulo ao longo de mais de 40 anos, especialmente entre 1985 e 2005, período em que nossa proximidade se estreitou. Guardo vivas as memórias das recepções em sua casa, sempre ao lado da esposa Arlete e das filhas Daniela e Fernanda. Era um anfitrião ímpar — e a família, um exemplo de acolhimento. Jantares, encontros sociais, reuniões informais ou mesmo recepções com lideranças políticas: Paulo transitava com a mesma leveza entre todos esses mundos.

Além de jornalista, teve destacada atuação na vida pública. Foi secretário da Casa Civil no governo de Antônio Carlos Konder Reis, secretário de Comunicação nos governos de Henrique Córdova e Esperidião Amin, e chefe da Comunicação do Ministério da Educação, durante a gestão de Jorge Konder Bornhausen.

Dialogava com todas as correntes políticas — sempre com respeito, inteligência e equilíbrio. Sua partida deixa um vazio profundo no jornalismo catarinense. Um silêncio difícil de preencher, ainda que, nos últimos tempos, ele estivesse mais recolhido.

Tive a satisfação de reencontrá-lo duas vezes nos últimos anos. Em dezembro de 2023, no lançamento do seu livro Outros Tempos — uma coletânea de crônicas escritas ao longo de 70 anos de carreira, que somam quase 9 mil textos. A obra foi organizada com carinho pelo genro, o publicitário Fábio Veiga, e pela neta Sofia, em um evento muito prestigiado.

Nosso outro encontro foi em setembro de 2024, na sede da FIESC, durante a despedida de Moacir Pereira da cobertura diária do jornalismo político. Estávamos juntos, também na companhia do jornalista Luiz Henrique Tancredo, celebrando trajetórias que marcaram gerações.

Paulo da Costa Ramos já deixa saudades. Não apenas pelo jornalista brilhante que foi, mas, sobretudo, pelo ser humano generoso, afetuoso e verdadeiro.

Lançamento de “Outros Tempos,” de Paulo da Costa Ramos, foi o evento literário do ano em SC

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