Repercutiu intensamente, durante o final de semana, no meio político de Santa Catarina, a corajosa, pertinente e valorosa manifestação da deputada estadual Ana Campagnolo (PL). O que ela disse? Ela afirmou que “nosso estado tem força própria e nomes capazes de representar o conservadorismo no Senado”, sem depender de figuras de fora. Ela defendeu senadores 100% catarinenses. É um posicionamento emblemático. Se isso tivesse partido de qualquer outro parlamentar liberal, o reflexo já seria inapelável. Mas estamos falando de uma parlamentar que fez quase 200 mil votos à Assembleia na reeleição de 2022. Campagnolo fez mais votos que todos os outros 15 deputados federais, exceção feita a Carol De Toni, sua amiga e correligionária. Mas Carol não bateu nos 250 mil, assim como Ana Campagnolo não bateu nos 200 mil votos. A votação da deputada estadual, no entanto, foi muito mais representativa do que a de Carol. Na Alesc, são 40 cadeiras e centenas de candidatos.
Proporção
Carol se elegeu a mais votada entre as 16 vagas catarinenses à Câmara. Ou seja, o número de candidatos a federal é infinitamente inferior. Então, se alguém, efetivamente, quisesse concorrer ao Senado, Campagnolo teria mais méritos do que a própria Carol. Mas não.
Projeto
O objetivo dela era continuar na Assembleia. É escritora, participa de cursos como professora, conferencista e palestrante. Além disso, por uma questão de programação familiar, ela não tinha pretensão de ir para Brasília, onde já está Carol, cumprindo o segundo mandato de federal. Tanto é que, desde o começo, Ana Campagnolo respaldou Carol, deixando claro que não seria candidata ao Senado.
Cenário
Só que agora, o que ela presencia? Carol esperneando, incomodada porque sua vaga ao Senado, na chapa liderada por Jorginho Mello, foi subtraída. A deputada federal erra o alvo, pois está a criticar única e exclusivamente o governador, que já havia lançado seu nome ao Senado, na companhia de Esperidião Amin, candidato à reeleição, numa dobradinha.
De cima
Ocorre que o governador reformulou seu posicionamento porque Jair Bolsonaro desarrumou a articulação daqui ao colocar, goela abaixo, Carluxo como candidato.
Intocável
Então Carol teria que estar reagindo mais fortemente a Bolsonaro. Mais ainda do que na direção de Jorginho Mello. Ao governador, registre-se, faltou, é bem verdade, a coragem que não está faltando à deputada estadual, que não aceita a vinda do vereador carioca.
Tudo tem limite
Jorginho deveria ter dado uma negativa ao ex-presidente, na linha de que se manteria fiel e companheiro, mas mantendo a posição de que a chapa majoritária liderada por ele já estava montada.
Alerta
O governador deveria ter deixado muito claro que não teria como trazer Carluxo pra cá. Aliás, situação que ele já vivenciou em 2022, quando precisou tirar o deputado estadual Kennedy Nunes, à época filiado ao PTB, da candidatura ao Senado, para colocar Jorge Seif.
Diálogo
Seif que é uma espécie de filho adotivo de Bolsonaro, o 06. Por falar em filho, com a chegada de Carluxo, são três dos seis por aqui.
Prole
Em Santa Catarina, Jair Renan, o 04, é vereador em Balneário Camboriú e candidato a deputado federal, ainda com a exigência do número 2222. Carluxo agora é nome para o Senado, e Seif é senador eleito em 2022.
Família
Os outros três: Flávio Bolsonaro é candidato à reeleição ao Senado pelo Rio; Eduardo Bolsonaro é deputado federal em São Paulo, mas está nos Estados Unidos e não sabe se será candidato ou não; fora estes cinco, há a única filha, a 05, Laura.
Pé aqui
Ou seja, metade dos filhos estão em território catarinense. Então faltou a Jorginho Mello o desprendimento e a firmeza que sobraram a Ratinho Júnior quando, assediado por Bolsonaro e já percebendo aonde ele queria chegar, avisou: você pode indicar um candidato ao Senado do Paraná, desde que seja paranaense.
Espelho
Faltou isso a Jorginho Mello porque, daqui a pouco, Carlos Bolsonaro disputa, se elege, e, a partir de 2027, dois dos três senadores de SC terão origem no Rio de Janeiro. Jorge Seif apenas nasceu aqui.
Manguinhas de fora
Ora, isso não tem o menor cabimento. E mais: se bobear, em 2030, Carluxo é candidato ao governo. Santa Catarina pode ser tudo, menos um estado de segunda classe. Muito ao contrário: é um estado que sempre marcou posição pela capacidade de discernimento político, de politização do seu eleitorado, que está sendo desrespeitado por esses movimentos da família Bolsonaro.

