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PADRE FELLER: UM SACERDÓCIO DE ENTREGA MAGISTERIAL E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO TEOLÓGICO

 

 

No dia 26 de julho de 2025, ano jubilar da esperança, a Igreja Católica em Santa Catarina despediu-se do sacerdote Vitor Galdino Feller, vigário geral da Arquidiocese de Florianópolis. Entre as muitas e importantes funções que desempenhou a serviço da Igreja, destacam-se sua atuação como professor na Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC) e como diretor espiritual do Movimento de Emaús – Secretariado da Arquidiocese de Florianópolis.

Doutor em Teologia Sistemática, Padre Feller defendeu teses acadêmicas de grande profundidade, conectadas à caminhada pastoral (apostolado) da Igreja, sem negligenciar as realidades hodiernas da sociedade civil, que soube interpretar à luz dos “sinais dos tempos”. Entre seus trabalhos acadêmicos, destacam-se: O Deus da revelação: a dialética entre revelação e libertação na teologia latino-americana (1987) e A cristologia de Puebla (1985).

Essas pesquisas desdobraram-se em publicações de relevante contribuição à ciência teológica, como: A revelação de Deus a partir dos excluídos (1995), Deus Trindade: a vida no coração do mundo (2003), Deus-amor: a graça que habita em nós (2003), O sentido da salvação – Jesus e as religiões (2005), Ser Padre Hoje (2013), além de dezenas de artigos científicos utilizados como textos-base em diversas faculdades e universidades.

A reflexão teológica de Feller percorreu um caminho epistemológico fundamentado nos ensinamentos do Concílio Vaticano II. Suas aulas, conferências e homilias fomentavam uma produção de conhecimento teológico sustentada por uma visão antropológica positiva da natureza humana, com centralidade na graça e não no pecado, e no diálogo como método para a unidade da Igreja. Em sua caminhada pastoral, defendia uma cristologia na qual o Cristo da história e o Cristo da fé revelam plenamente a história e a salvação da humanidade. E que na Trindade, fonte e missão da Igreja, repousa todo o mistério que interliga céu e terra.

Frequentemente, com profundidade e coragem profética, denunciava, em suas reflexões e homilias bem preparadas e fundamentadas, as lógicas contemporâneas que propõem salvação sem sacrifício, santidade sem renúncia e um estilo de vida hedonista, que favorece o comodismo, o individualismo e, consequentemente, o relativismo.

Nos últimos anos, acompanhou de perto os jovens e casais do Movimento de Emaús, sendo também o postulador da causa de beatificação de Marcelo Câmara, promotor de justiça que fez sua páscoa em sinais de santidade. Com esses jovens e casais, construiu um caminho de fé, respeitando as particularidades do movimento, mas sempre apontando para a teologia do Concílio Vaticano II, para as diretrizes da Igreja no Brasil e para o Plano Pastoral Arquidiocesano. Insistia, com firmeza e ternura, na construção de uma Igreja em comunhão.

Em tempos marcados pela superficialidade, pelo imediatismo e por “intelectualismos” desprovidos de sabedoria, Padre Feller soube, com prudência, ciência e sensibilidade, transitar em meio a uma realidade de polarizações extremistas – que, infelizmente, não poupou nem mesmo a Igreja. Jamais utilizou seus títulos acadêmicos para intimidar, distanciar ou impor suas posições. Ao contrário, com profundo domínio da doutrina, foi paciente no percurso formativo e na elucidação dos elementos da fé, especialmente junto aos jovens.

Durante as exéquias, em certo momento, sua mãe teria dito ao Arcebispo: “Ele foi um bom filho”. Ao que o Arcebispo respondeu: “Foi ele um bom padre da Igreja”. De fato, foi também um exímio teólogo. Seu ministério sintetiza bem o que escreveu o Papa Francisco na encíclica Laudato Si’: “Vale a pena sermos bons e honestos” (LS, n. 229). Mostrou-se um verdadeiro peregrino da esperança.

 

Vilmar Dal Bó, Doutor em Ciências Econômicas e Políticas.