Blog do Prisco
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A Corte em desgaste

 

 

Há instituições que se sustentam não apenas por seus poderes, mas por sua autoridade moral. O Supremo Tribunal Federal é, ou deveria ser, uma delas.

Guardião da Constituição, símbolo do equilíbrio e do limite entre os Poderes, a Corte vive hoje um tempo de evidente desgaste, e não apenas por críticas externas, mas por fissuras internas que já não cabem entre quatro paredes.

Os desentendimentos entre os próprios ministros, expostos em entrevistas, votos e até em gestos públicos, corroem o que há de mais sagrado na Justiça: a confiança. Quando a divergência jurídica se transforma em disputa pessoal, e a toga cede espaço à vaidade, a serenidade que deveria marcar o Judiciário se perde na névoa do espetáculo.

A sociedade observa perplexa, demonstrando descrédito. O tribunal que deveria unir-se em torno da Constituição parece dividido em torno de si mesmo. O debate que deveria ser técnico torna-se político; a palavra que deveria pacificar termina por acirrar. O resultado é um Supremo que, em vez de irradiar segurança, transmite ruído, e o ruído, na Justiça, é sempre sinal de fragilidade.

O STF tem o dever de defender a democracia, conter abusos e garantir direitos. Mas, para isso, precisa preservar o senso de limite e o respeito à própria liturgia do cargo. Não há Justiça onde há holofote permanente. A força da toga não está na visibilidade, mas na discrição; não está na fala, mas na ponderação.

O desgaste da Corte não nasce do confronto de ideias, que é legítimo e saudável, mas do modo como essas ideias se manifestam.

Quando o diálogo cede ao conflito e o protagonismo substitui a prudência, a instituição se enfraquece por dentro. E uma Justiça enfraquecida é um país em desequilíbrio.

O Brasil precisa de um Supremo que inspire, e não que divida, de ministros que escutem mais que falem, que compreendam que a serenidade é, também, uma forma de coragem.

A Corte que se ergueu para guardar a Constituição precisa reencontrar o silêncio que dá peso à palavra e o equilíbrio que devolve à Justiça o que ela tem de mais nobre: credibilidade, serenidade e confiança.

Léo Mauro Xavier Filho, empresário