.
.
A missão era impossível. As cartas estavam marcadas.
.
Os senadores romanos iriam somente referendar a sentença de morte do velho centurião. Mas, na defesa, estava Marco Túlio Cícero. Outro jovem, o senador Julio César, atuava na acusação.
.
Naquele dia, Cicero, mostraria o poder da palavra associada ao planejamento estratégico e ao estudo. Pois, sem estratégia, toda a palavra pode se tornar nula; sem se aprofundar na análise, a retórica pode se tornar obtusa.
.
E fez e aconteceu. E mais: usou a própria palavra, tirada da boca dos senadores, para impor a sustentação da defesa e inocentar o centurião Catão Sérvio acusado de instigação do povo, uma armação dos asseclas do imperador de plantão, General Sina.
.
Cícero, usando a prova do crime – um livro escrito pelo velho militar – descaracterizou a acusação de incitação à revolta contra o imperador para o mero crime de plágio. E, incrível, usando a própria confissão do acusado, submeteu os senadores à reconsideração do ato, por maioria absoluta. Aqueles que acusavam, se viram no papel de tolos, pois demonstraram sequer ter lido o teor do processo…
.
O episódio acima, que reescrevi em síntese para o meu livro, é relatado pela escritora inglesa Taylor Caldwell, no excepcional livro “Um Pilar de Ferro”, Record, 2003, em que a autora levou dez anos na Itália ao pesquisar sobre o gênio da Oratória, Marco Túlio Cicero que, ao lado do grego Demóstenes, são considerados os maiores oradores da Humanidade.
.
Há inúmeras reflexões sobre Cicero em “O Pilar de Ferro” no desenrolar de seu aclamado conhecimento do Direito e defensor implacável da Justiça, tanto que pagaria com a própria vida por essa determinação e conduta íntegra.
.
No cenário político atual no Brasil, em que se confundem os Três Poderes, numa só parte da balança, encontrei acalanto na referência de Cícero e acrescentei, à margem do episódio, na página 31, os ensinamentos e o exemplo do romano me marcaram:
.
– Os princípios devem nortear a conduta. E não o contrário.
– A crença é a essência que sustenta a convicção.
– O domínio do conteúdo transforma as ilações adversas em pó.
– Os trunfos os deixe para o último momento. Não os desperdice à toa.
– A crença exagerada, cega; a crença violenta, idiotiza… Então…
Silvio Luzardo, autor de “Eu! Falando em Público”, Ed. Paulus, SP, 2010, p. 30.