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Bullying: uma dor silenciosa que está matando e mutilando crianças e adolescentes de Florianópolis

O bullying não é apenas uma cena de recreio, um momento passageiro entre risadas e jogos. É a exclusão que corrói silenciosamente, a humilhação que se repete e se infiltra no cotidiano, deixando marcas invisíveis que podem acompanhar crianças e adolescentes por toda a vida. É uma dor silenciosa que, quando ignorada, pode se transformar em tragédia.

Em Florianópolis, os números tornam essa realidade impossível de ignorar: mais da metade dos estudantes entre 11 e 14 anos já sofreu bullying, segundo pesquisa da UFSC. Outro levantamento da OAB/SC aponta que 82% dos alunos da Grande Florianópolis convivem diariamente com esse problema. São meninos e meninas das nossas escolas, dos nossos bairros, que carregam essa violência todos os dias, muitas vezes em silêncio, sem que pais, professores ou gestores percebam a profundidade das feridas.

O psicólogo Jonathan Haidt, em seu livro “A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais”, alerta para um dado alarmante: a taxa de suicídio e de automutilação vem crescendo de forma assustadora entre adolescentes, especialmente meninas, que se mostram ainda mais vulneráveis ao impacto da rejeição, do isolamento e da pressão social amplificada pelas redes digitais. O bullying, seja no espaço físico da escola ou no ambiente virtual, tem potencial devastador. O que parece uma “brincadeira” pode ser o gatilho para a ansiedade, depressão profunda e até a decisão desesperada de tirar a própria vida.

Por muito tempo, fingimos que era apenas uma fase que passaria sozinha. Mas não passa. Cada silêncio custa caro. Nas escolas de Florianópolis, os relatos são perturbadores: funcionários, professores e diretores admitem que, em alguns casos, já não sabem mais o que fazer. O problema se tornou tão enraizado que ultrapassa a capacidade individual de gestão escolar. Estamos diante de uma questão de saúde pública e de segurança, que exige resposta imediata, firme e coletiva.

Foi com essa urgência que nasceu a Frente Parlamentar de Saúde Mental na Câmara de Florianópolis, criada não apenas para enfrentar o bullying, mas para lidar com todas as questões que impactam a saúde mental de crianças, adolescentes, jovens e adultos em nossa cidade. É um espaço de escuta e construção, com a participação de especialistas, professores, profissionais de saúde, famílias e, principalmente, os próprios estudantes, com o objetivo de transformar dor em ação concreta. Queremos fortalecer a rede de apoio psicossocial e construir políticas públicas que façam diferença, antes que o sofrimento se torne irreversível.

Mas essa luta não pode ser travada apenas dentro das escolas. É fundamental envolver toda a comunidade escolar, desde professores e famílias até os órgãos de proteção e segurança. A polícia, o Ministério Público, os conselhos tutelares e as entidades da sociedade civil precisam atuar em conjunto, porque no mesmo ambiente temos vítimas silenciosas e agressores — ambos necessitam de atenção, acompanhamento e medidas firmes que rompam o ciclo de violência.

Combater o bullying não é apenas reagir quando já é tarde demais. É encarar um problema que fere e silencia. É escolher não naturalizar a violência. É decidir, como sociedade, que nossas crianças e adolescentes têm direito de crescer livres, sem medo, sem exclusão e sem cicatrizes invisíveis.

Cuidar da saúde mental das nossas crianças e adolescentes é um passo fundamental para definir a cidade que queremos ser: uma cidade que protege, que acolhe e que garante a cada jovem o direito de viver plenamente.

 

Pri Fernandes
Psicóloga
Vereadora de Florianópolis
Presidente da Frente Parlamentar de Saúde Mental