Nenhum político de Santa Catarina hoje tem tamanha liberdade, intimidade e aproximação com Jair Bolsonaro quanto Jorginho Mello. Algo que ele conquistou com anos de convivência.
Afinal, o catarinense chegou em Brasília como senador em 2019, pelo PL — partido que, na sequência, foi a opção de Bolsonaro — com quem o atual governador já havia convivido na Câmara dos Deputados.
Diante da investidura à frente da administração estadual e da derrota de Bolsonaro, essa convivência, esse entrosamento, acabou ganhando requintes de uma amizade com comprometimento recíproco.
Tanto é que, devido ao quadro de proximidade, Jorginho Mello ficou sem condições de dizer “não” a Jair Bolsonaro. Principalmente quando foi sondado sobre a transferência de domicílio eleitoral do filho Carlos para Santa Catarina, para concorrer ao Senado.
Filme antigo
Lembrando que, em 2022, a indicação recaiu sobre Jorge Seif, que foi secretário da Pesca de Bolsonaro. Ele é considerado o 06, tamanha a ligação com o ex-presidente. E se elegeu com um milhão e meio de votos.
Isso é passado.
Nova versão
Estamos caminhando, portanto, para a segunda eleição consecutiva em que Bolsonaro lança um nome ao Senado em SC. Desta vez, Carluxo, há 20 anos vereador pelo Rio de Janeiro.
Seif não tinha antecedentes eleitorais. Nasceu no Rio, mas mantém atividade empresarial na província desde o fim dos anos 1990.
Ligação
Ou seja, Seif tem longa relação com o estado. Carlos Bolsonaro, por outro lado, não tem nenhuma conexão real com Santa Catarina.
Jair Bolsonaro está se prevalecendo daquilo que ficou claro nas urnas nas duas últimas eleições: o apreço do eleitor catarinense por ele.
Mas esse mesmo eleitor, essencialmente conservador e bolsonarista, pode estar começando a achar que o jogo está passando do limite.
Fora da urna
Outro ponto importante: Jair Bolsonaro não estará na urna em 2026, como ocorreu em 2018 e 2022 — quando teve votações arrasadoras em SC.
Goleadas
Em 2018, no segundo turno, fez quase 76% dos votos contra Fernando Haddad. Em 2022, quase 70% contra Lula.
Estamos falando de um ex-presidente de dois mandatos com forte capital político — mas mesmo assim Bolsonaro lhe aplicou uma surra.
Anfitrião
Agora, Jorginho Mello, que nesta semana recebe Bolsonaro e Michelle — sexta-feira em Balneário Camboriú e sábado em São José — está escalando aliados de confiança para mandar recados a Brasília.
Assim não
A manifestação de segunda-feira do deputado federal Jorge Goetten, eleito pelo PL e que Jorginho articulou a transferência para o Republicanos, foi claríssima.
Disse que não é uma boa ideia trazer o 02 para o estado.
Segundo ele, isso poderá tirar Carol De Toni da chapa majoritária — o que seria um erro político enorme.
Federados
Goetten também alertou: Jorginho terá que entregar uma das vagas para a federação União Progressista, representada por Esperidião Amin.
Caso contrário, essa federação pode migrar para o projeto de João Rodrigues (PSD).
Além disso, o MDB precisa ser mantido próximo, provavelmente com a oferta da vaga de vice.
Jogo de cena
Respeita-se o posicionamento de Jorge Goetten. Mas, no caso de Carol De Toni, é absolutamente improvável que ela não esteja na chapa majoritária. Ficou claro que a movimentação tem digitais do Centro Administrativo, e tem como objetivo pressionar Bolsonaro para que reflita melhor sobre essa ideia maluca de lançar Carlos ao Senado por SC.
Conclusão
Líquido e certo mesmo é que muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte.