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Os Tempos líquidos da Política

Vinícius Ouriques Ribeiro
Advogado
Especialista em Controle da Administração Pública/UFSC/2015

O sociólogo polonês Zygmunt Baumann é sem dúvida um dos intelectuais mais respeitados no mundo atual. Recentemente escreveu sobre a modernidade líquida, referindo-se ao novo momento vivido por todos nós. “Nada é feito pra durar. Vivemos tempos líquidos porque tudo muda rapidamente”, comentou. Acrescentou ainda que “No estágio atual da modernidade, os líquidos são deliberadamente impedidos de se solidificarem”. Pois bem.

Dia desses discutia com um amigo sobre a dificuldade de políticos se manterem em seus mandatos, apresentar de fato resultados que honrem seus mandatos e mude a vida das pessoas. Fiz uma analogia com os Tempos Líquidos escritos por Baumann. Salvo melhor juízo, penso que estamos vivendo a Era das Mudanças (para os otimistas) ou o Tempo das Incertezas (para os pessimistas). Como bem observou o meu amigo, “estamos vivendo quatro anos em um”. E assim tem sido nosso 2019, que já dá sinais da chegada do próximo Natal. Na conversa, fiz essa avaliação. Acredito que é cada vez mais visível a dificuldade da solidificação dos mandatos. Não apenas dos mandatos parlamentares, mas também dos mandatos dos executivos. E é isso que eu chamo de “Tempos líquidos na Política”.

Considerando as grandes manifestações do povo (mesmo que em sua maioria apenas nas redes sociais), resta demonstrada vontade por mudanças constantes. O que agrada hoje, daqui alguns dias não agrada mais. É um constante querer. Uma busca por novidades. Temos uma população cada vez mais conectada, “informada” e ansiosa por mudanças. Quem não tem uma “bandeira” bem definida, não vai sobreviver. Não vai solidificar. Muitos dos que tiveram sucesso no último pleito, nem esperavam os resultados que tiveram. Alguns não tinham bandeiras, projetos ou sequer imaginavam como seria “o ser uma Autoridade”. Grande parte chegou ao “sucesso” arrastada por uma onda de inconformismo, cansaço e indignação. Mas até agora, passado quase um ano do mandato, ainda não conseguiram mostrar para que vieram. Estão perdidos. Alguns, perdidos em brigas ideológicas. Outros embriagados pelo fato de ser uma “Autoridade emergente”. Já os chamados tradicionais, conseguiram chegar ou se manter porque trabalharam muito. Atenderam segmentos ou tinham bandeiras bem definidas. De alguma forma apresentaram resultados e ganharam do povo uma oportunidade para prosseguir. Deram muita sorte? Talvez sim. Até porque a última eleição castigou também muita gente boa. Gente que mostrava resultado e sentia o cheiro e as necessidades das pessoas. Mas, infelizmente foram tombados pelo imediatismo.

Enfim, como falava aquela propaganda do extinto Banco Bamerindus, “o tempo passa, o tempo voa”. E com ele nasceu uma sociedade cada dia mais crítica, mais imediatista e que cobra sempre mais. Só que produzir resultados é a grande dificuldade para quem chegou sem ao menos imaginar que chegaria ou para quem já está, há muito tempo, viajando pelas estradas da política. Daqui para frente é preciso muito trabalho. Muito mesmo. É preciso criatividade. É preciso se reinventar. É preciso capacidade de reconectar ou conectar com essa “nova sociedade”. Fazer política não é para amadores. Nunca foi. Produzir resultados não é para qualquer um. E pelo andar da carruagem, as próximas eleições levarão com elas quem chegou por acaso e quem está sem bandeira, sem projetos bem definidos. E trará uma nova leva de novidades. É o que me parece.

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