Blog do Prisco
Artigos

Redação se ensina e se estuda

 

Sharlene Leite
Coordenadora de Redação do pré-vestibular Fleming Medicina

Em um cenário no qual muitos estudantes buscam atalhos para alcançar boas notas em provas de redação, torna-se urgente repensar o ensino da escrita. Há uma diferença gritante entre preparar um aluno para repetir estruturas decoradas e formar um cidadão capaz de refletir sobre questões complexas da sociedade.

Visando ao engajamento ou à viralização, a abordagem de adivinhação dos temas propostos pelas bancas de ENEM e vestibulares ignora uma verdade evidente: não se trata de um jogo de sorte. Realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC), a prova do ENEM é construída a partir de diretrizes claras, que estão previstas em edital e seguem os princípios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

O eixo formador da redação do ENEM está diretamente relacionado à promoção de uma educação que contribua para o desenvolvimento da sociedade, como prevê a Constituição. Os temas propostos apresentam transversalidade, tocando simultaneamente em campos diversos, a exemplo de economia, meio ambiente, saúde pública, direitos humanos e inclusão de minorias representativas. Espera-se que o candidato vá além do senso comum e articule saberes interdisciplinares, com base em leitura crítica, conhecimento de mundo e com propostas de desdobramentos e aplicação social.

É nesse ponto que se revela o principal equívoco dos modelos prontos. Quando se reduz a prática da redação à memorização de frases feitas, introduções engessadas e argumentos genéricos, desconsidera-se a singularidade de cada proposta. O professor tem como papel ser agente de formação leitora e repertório cultural, instigando o aluno a entender os problemas e propor soluções plausíveis, ensinando-o a pensar com autonomia.

“Brincar de Inep” não é se achar leitor de bola cristal, mas sim entender os critérios que orientam as propostas de prova. Quem assim o faz, em algum momento acerta o tema sem precisar se vangloriar. O bom desempenho de escrita é consequência de formações que valorizam a sensibilidade e o engajamento em prol do mundo – não do algoritmo. Em vez de mostrar atalhos, a hora é de ensinar caminhos.