Na noite de segunda-feira (27), a Câmara Municipal de Florianópolis sediou a Reunião Ampliada “Bullying e Cyberbullying nas Escolas: o papel das instituições no combate a esta prática”, promovida pela vereadora Pri Fernandes, presidente da Frente Parlamentar de Saúde Mental. O evento reuniu autoridades, profissionais da educação, saúde e segurança pública, além de pais e representantes da comunidade escolar, com o objetivo de discutir estratégias de prevenção e enfrentamento à violência nas escolas e no ambiente digital.
A vereadora Pri Fernandes, que também é psicóloga e autora de projetos voltados à saúde mental e proteção infantojuvenil, abriu o encontro com um alerta:
“Crianças e adolescentes estão sofrendo e perdendo a vontade de viver. Precisamos agir, falar, acolher e prevenir. O silêncio pode matar.”
Entre os participantes estavam a deputada estadual Luciane Carminatti, presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa; o Promotor Wilson Mendonça, coordenador estadual do GAECO/CYBERGAECO; o médico psiquiatra Dr. Raimundo Júnior; e as psicólogas Maria Albina Nunes e Michelle Amanda, integrantes do Núcleo de Prevenção e Atenção às Violências nas Escolas (NEPRE).
Durante o encontro, foram apresentados dados preocupantes: em 2024, Santa Catarina registrou 7.719 casos de bullying — uma média de 21 por dia — sendo Florianópolis a cidade com maior número de ocorrências (1.064). Outra base local apontou 2.935 registros, com pico entre 12 e 15 anos. Entre estudantes de 13 a 17 anos, 39,1% relataram episódios de humilhação, com maior incidência entre jovens LGBTQIAPN+. Os principais motivos citados foram aparência corporal (16,5%), rosto (10,9%), raça, cor e orientação sexual.
O Promotor Wilson Mendonça destacou o impacto psicológico do cyberbullying:
“A dor das vítimas é real, mesmo quando o ataque é virtual, e o impacto psicológico do cyberbullying é devastador. O silêncio protege o agressor. A denúncia protege a vítima.” Ele também apresentou o panorama de atuação do CYBERGAECO/SC, que realizou 40 operações entre 2023 e 2025, e cobrou maior responsabilidade das plataformas digitais na remoção de conteúdos ilícitos.
A deputada Luciane Carminatti reforçou a importância de políticas públicas efetivas:
“Precisamos garantir a implementação da Lei 18.574/2022, que obriga a inclusão do Disque 100 em todos os materiais escolares, e avançar com o PL 180 de Justiça Restaurativa. Também é urgente estabelecer prazos para a contratação de psicólogos e assistentes sociais nas escolas.” Ela sugeriu ainda uma audiência com o Conselho Estadual de Educação para fiscalizar o cumprimento dessas medidas, especialmente na rede privada.
As psicólogas do NEPRE alertaram para a escassez de profissionais: atualmente, Santa Catarina conta com apenas quatro duplas de psicólogos e assistentes sociais para atender cerca de 80 mil alunos.
“É humanamente impossível atender toda a demanda com essa estrutura. Precisamos de equipes permanentes e políticas de prevenção contínuas”, pontuaram.
Apesar da relevância do tema, a Secretaria Estadual de Educação e o SINEPE/SC — que representa a rede privada — não compareceram ao evento.
Ao final, foram apresentados encaminhamentos e sugestões, como a criação de protocolos obrigatórios de notificação de casos de violência nas escolas, a ampliação de programas de prevenção e o fortalecimento da rede de apoio às vítimas.
Diante dos relatos e dados apresentados, a vereadora Pri Fernandes anunciou:
“Protocolamos hoje a criação da Procuradoria Especial da Criança e do Adolescente na Câmara Municipal de Florianópolis. É mais um passo para garantir que nossas crianças e adolescentes tenham voz, proteção e cuidado.”
O encontro reforçou que enfrentar o bullying e o cyberbullying exige ação coordenada entre escolas, famílias, poder público e sociedade civil — com presença efetiva de profissionais capacitados, políticas públicas concretas e, acima de tudo, compromisso com a vida e a dignidade de crianças e adolescentes.






