Atrás apenas do Pará, Santa Catarina cresce 4,9% no ano, mas queda de agosto expõe contrastes entre prosperidade e fragilidade social
Santa Catarina manteve o ritmo acelerado da economia brasileira em 2025, alcançando alta de 4,9% na atividade econômica entre janeiro e agosto, quase o dobro da média nacional.
O dado, divulgado pelo IBGE, consolida o Estado como o segundo de maior crescimento do país, atrás apenas do Pará. No entanto, o resultado vem acompanhado de alertas: em agosto, houve retração de 1,3%, uma das maiores quedas mensais do Brasil.
Para o professor Daniel da Cunda Corrêa da Silva, economista e docente do curso de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), os números refletem tanto a força conjuntural do comércio e dos serviços quanto as fragilidades de um modelo sustentado por renúncias fiscais elevadas e desequilíbrios regionais.
“O crescimento catarinense foi impulsionado, sobretudo, pelo setor de comércio, que acumulou alta de 6% no período — bem acima da média nacional de 1,6% — e pelo setor industrial, que avançou 3,3% contra 0,9% no país”, destaca Corrêa da Silva. “Entretanto, em agosto já observamos os efeitos do tarifaço norte-americano e das altas taxas de juros no Brasil, que vêm freando a produção e o consumo”, diz.
O economista explica que o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, vigente desde julho, tem afetado especialmente o setor moveleiro catarinense, um dos mais expostos ao mercado externo. A medida, somada à taxa básica de juros de 15% ao ano, que se mantém estável há nove meses, tem provocado desaceleração nas exportações e no investimento produtivo.
Do ponto de vista estrutural, Santa Catarina mantém vantagens históricas que explicam sua resiliência econômica. Entre elas, Corrêa da Silva destaca a melhor distribuição de renda e propriedade rural, herança de um processo de colonização mais fragmentado que o de outros estados. “Essa estrutura permitiu que o Estado consolidasse um mercado interno robusto, com renda média e poder de compra superiores à média nacional, o que sustenta o dinamismo do varejo e do setor de serviços”, explica.
Mesmo assim, o professor alerta para os custos sociais do modelo atual. Em 2025, as renúncias fiscais catarinenses atingiram R$ 24,6 bilhões, o equivalente a um terço da receita corrente líquida do Estado, estimada em R$ 70 bilhões. “Esses incentivos mantêm empresas e empregos, mas reduzem a capacidade de investimento público. O Estado deixa de aplicar recursos em áreas essenciais como saúde, saneamento e educação”, analisa.
A crítica tem eco em órgãos de controle: o Ministério Público de Santa Catarina e o Tribunal de Contas do Estado já questionaram a falta de transparência nas contrapartidas oferecidas por empresas beneficiadas. Para Corrêa da Silva, o dilema se resume a um equilíbrio delicado entre competitividade e qualidade de vida.
“Crescer é importante, mas crescer com responsabilidade social é o que define o futuro de uma economia sólida”, afirma o professor. “Santa Catarina precisa repensar como transformar seu vigor econômico em políticas públicas mais consistentes”, alerta.
O cenário de 2025 revela, portanto, uma economia que avança em ritmo acelerado, mas carrega pressões internas e externas que exigem atenção. A combinação entre juros elevados, perda de fôlego industrial e dependência de incentivos fiscais delineia um quadro de contrastes.
Na Univali, análises como a do professor Corrêa da Silva integram o compromisso da universidade em produzir conhecimento aplicado à realidade regional, promovendo reflexão crítica sobre o desenvolvimento econômico e social de Santa Catarina.
“Nosso papel é conectar pesquisa e sociedade. A universidade tem o dever de ajudar o Estado a compreender seus próprios movimentos e antecipar cenários”, reforça o docente.
Com base em dados e interpretação acadêmica, o diagnóstico é claro: Santa Catarina segue em expansão, mas precisa redirecionar parte desse crescimento para o fortalecimento estrutural de seu futuro — um desafio que ultrapassa a economia e alcança o campo da gestão pública, da inovação e da equidade social.






