Vou começar relatando um pequeno incidente que fará introdução ao assunto que desejo discorrer.
Uma dona de casa entrou no açougue e pediu um frango de dois quilos. O açougueiro tirou o último frango que havia, e disse: “Este é o último frango, mas, infelizmente, só pesa um quilo e novecentos gramas. Acho que cem gramas não fazem muita diferença, faz?”
“Que pena!”, respondeu a mulher, “quero preparar uma receita especial e o frango tem que pesar exatamente dois quilos. Terei que ir a outro açougue”.
“Não, não”, interrompeu o açougueiro. “Agora lembrei que tenho mais um frango na outra geladeira”. Ele levou o frango para dentro e retornou com o mesmo frango. Colocou-o na balança e, com esperteza, disse: “Aqui está, exatamente dois quilos”.
“Obrigada!”, disse a senhora, “estou tão agradecida ao senhor que decidi levar os dois frangos!”.
A mentira, a fraude, o fingimento não vão longe. Dá a impressão de que resolve o problema, mas no final, é desmascarado. Foi exatamente isto que aconteceu com centenas de alunos aqui no nosso Estado, que foram prejudicados por atitudes de algumas pessoas que agiram como este açougueiro.
Vocês lembram da antiga e famosa “Lei de Gerson”, muito comentada no Brasil anos atras? Pois bem, é exatamente isto que desejo escrever hoje. Esse é um grave defeito de caráter de muitos brasileiros, tendo oportunidade, eles se aproveitam, falsificam e acabam prejudicando os que realmente necessitam.
Dar um “jeitinho” tem-se tornado uma especialidade humana. Os brasileiros estão acostumados a maquiar as realidades. Carros recebem um bom visual para ser vendidos; a imoralidade vem recebendo o nome de orientação sexual; roupas e tênis recebem etiquetas falsas de marcas famosas para apresentarem autenticidade; a menina que finge estar com dor de cabeça para não enxugar a louça, e por aí vai.
É a tendência natural de adaptar a verdade ao seu jeito. Toda maquiagem, toda intenção de ocultar a verdade é mentira e desonestidade. Temos que parar de tentar “ajeitar” as coisas. Temos que parar de sermos falsos.
Vivemos hoje um estado de profunda crise. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais. Uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história brasileira.
O Brasil ficou perplexo no passado com a adulteração de um dos alimentos básicos e mais ingeridos pelo povo, onde pessoas inescrupulosas misturaram soda cáustica e água oxigenada ao leite, para obterem maiores lucros. Hoje fazem o mesmo com o café, azeite de oliva e sucos concentrados.
Onde vamos parar? Como ficam as pessoas que dependem desses alimentos?
Será que ninguém faz nada para punir estes bandidos? Pelo menos nesta questão das bolsas da universidade gratuita estão fazendo alguma coisa, e que os que roubaram sejam realmente punidos.
Nosso país está se tornando a nação do faz de conta.
Hoje foi o café, o azeite e a universidade gratuita. No passado foi o leite, o pão e até alguns remédios. E no futuro, o que vão falsificar?
É triste e revoltante. O Brasil poderia ter se tornado um país de primeiro mundo se nossos princípios fossem outros.
Um país belo como o nosso não merece a mentalidade sociocultural doente dessas pessoas que querem tirar vantagem em detrimento da boa-fé e da honestidade de outros.
Que nos próximos anos tenhamos um Brasil mais bonito e os brasileiros mais sérios e civilizados.
RICARDO WINTER
ricardof.winter@gmail.com