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A contribuição do cooperativismo catarinense

Luiz Vicente Suzin, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

Avaliar o ano que se encerra e fazer projeções sobre o ano que principia é um dos inevitáveis “rituais de passagem” da humanidade. Esse exercício se torna particularmente imperioso em tempos de pandemia, nos quais todos os setores da atividade humana foram direta ou indiretamente impactados por seus deletérios efeitos.

            Examinando com atenção a realidade de Santa Catarina conclui-se, sem muito esforço, que os danos sociais e econômicos da pandemia foram atenuados nesse território da federação brasileira. A taxa de desemprego é a menor do País e  muitos municípios vivem em regime de pleno emprego. A indústria continuou produzindo, o setor de serviços evoluiu e o agronegócio prosseguiu batendo recordes de exportação.

            Em grande parcela o cooperativismo leva, merecida e justificadamente, o crédito por essa estabilidade. Há mais de 100 anos as cooperativas fazem parte da história e da economia de Santa Catarina. Elas atuam nos principais setores da economia barriga-verde, produzindo bens e serviços para a sociedade e reunindo mais de 3 milhões de associados. A contribuição das cooperativas na dinamização da economia é imensa. Em 2020 elas registraram 50 bilhões de reais em receita e mantiveram mais de 73 mil empregados diretos.

As cooperativas estão presentes no dia a dia das pessoas, seja através de produtos consumidos diariamente, seja por meio de serviços. As pessoas são impactadas basicamente de duas formas: ou são associados (cooperados) de alguma cooperativa ou são consumidores de serviços e produtos originados em  cooperativas. No primeiro caso, os cooperados usufruem dos resultados econômicos das cooperativas na razão direta de sua participação; no segundo caso, o consumidor frui os benefícios de produtos e serviços sustentáveis e de excelência.

Parte da explicação para esse escudo de proteção está nos postulados universais. Um dos princípios internacionais do cooperativismo é o interesse pela comunidade. Esse compromisso faz de cada cooperativa uma empresa cidadã, preocupada com os problemas que afligem as comunidades onde elas atuam. Por isso, frequentemente as cooperativas criam programas próprios ou apoiam programas do Poder Público ou de instituições filantrópicas com o objetivo de assistir segmentos vulneráveis da sociedade. Além disso, as cooperativas estimulam o voluntariado e protagonizam – com seus cooperados e colaboradores – atividades sociais ou de defesa ambiental.

Muitos ramos do cooperativismo catarinense alcançaram uma admirável pujança. O agronegócio é uma das principais locomotivas. As cooperativas agropecuárias foram decisivas para desenvolver o setor primário da economia catarinense, organizando a produção, levando a tecnologia para o campo e assegurando mercado para os produtos agrícolas e pecuários. Hoje, as  cooperativas agropecuárias representam 69,2% do movimento econômico de todo o sistema cooperativista catarinense. No conjunto, essas cooperativas mantêm um quadro social de 73.539 cooperados e um quadro funcional de 48.287 empregados. O faturamento anual do ramo agropecuário, em 2020,  totalizou  R$ 34,4 bilhões.

O cooperativismo de crédito é outro paradigma de excelência. A intermediação, a gestão de crédito e a oferta de centenas de produtos financeiros deixaram de ser privilégio dos Bancos. O cooperativismo de crédito em Santa Catarina é muito emblemático porque consegue expressar como esse vitorioso segmento está entranhado na vida social e econômica dessa unidade da Federação brasileira. Atuam em todas as regiões do território estadual 62 cooperativas de crédito que, juntas, representam 2,2 milhões de catarinenses. Esse imenso capital humano corresponde a 1/3 da população e a 73% de todos os associados/cooperados entre todas as cooperativas (de todos os ramos) registradas na OCESC. Nesse período de pandemia, as cooperativas de crédito inovaram em serviços. Foram muito além do básico. Interpretaram cenários, diagnosticaram situações, modularam produtos e serviços e foram a campo oferecer soluções. Muitas atividades foram essencialmente assistenciais, em razão da gravidade do momento, mas outras foram de assessoramento, apoio e soerguimento.

Nas cooperativas de saúde cooperados (associados) são os médicos. Elas surgiram para evitar que esses profissionais fossem explorados por empresas privadas do ramo da saúde complementar. A expressão mais forte desse ramo do cooperativismo em Santa Catarina é o Sistema Unimed. As cooperativas de saúde oferecem, à população, assistência médica especializada e atendimento hospitalar com o que há de mais avançado em tecnologia.

As cooperativas também incentivam atividades esportivas, culturais e recreativas como parte do programa de relacionamento com os seus diversos públicos com objetivos de difundir o associativismo e fortalecer a marca no mercado local/regional.

            Para o Brasil o ano de 2022 se apresenta desafiador, pois inicia com alguns percalços para o empresariado, as classes produtoras em geral, as famílias e os consumidores,  como inflação ascendente, escassez de matérias-primas e insumos, produção industrial estagnada, baixo crescimento econômico, desemprego (exceção para SC) e preocupação com o controle fiscal do Estado brasileiro. Santa Catarina atravessará o ano, mais uma vez, com otimismo e fé no trabalho, impulsionada pelo seu dinâmico cooperativismo.