Blog do Prisco
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Dias melhores para o campo

A melhoria das condições de vida e trabalho é fator determinante para a fixação da população rural no campo e a manutenção de elevados níveis de produção e de produtividade. A oferta de energia e internet é fator crucial nesse objetivo, em face das novas exigências da vida moderna. Por essas razões, as entidades de representação e defesa da agricultura e do agronegócio receberam com renovado otimismo o recente anúncio do Governo do Estado sobre a implementação de um programa para a melhoria da rede de distribuição de energia elétrica nas zonas agrícolas. A OCESC sempre reivindicou esse tipo de investimento e esteve presente no ato de lançamento.

A empresa estatal Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) investirá 40 milhões de reais para a substituição de 500 quilômetros de rede monofásica por trifásica, assegurando aos produtores rurais disponibilidade, estabilidade e qualidade de energia. Serão prioritariamente atendidas as regiões de maior densidade na produção agrícola, pecuária e extrativista como o Grande Oeste, o Planalto Serrano, o Planalto Norte e o Alto Vale, totalizando 20 mil estabelecimentos agrícolas. Evidente que os recursos originalmente disponibilizados são insuficientes para atender as mais de 183.000 propriedades rurais, mas o Governo sinaliza a firme determinação de perseverar e robustecer o programa. Desde a década de 1970, quando foi criada a estatal Erusc (Eletrificação Rural de Santa Catarina) – que desenvolveu o maior programa energético para o setor primário barriga-verde – não se via iniciativa maiúscula nessa área.

Assegurar energia estável e abundante para o campo é fator de real interesse público – e não apenas dos produtores, empresários rurais, cooperativas e agroindústrias. Os Municípios, por exemplo, são diretamente beneficiados, pois as atividades agropecuárias impactam diretamente na apuração do movimento econômico usado para definição do índice de rateio do ICMS arrecadado em Santa Catarina.

O campo catarinense vive um processo de crescente incorporação de tecnologias, cujo emprego depende de energia (e internet) de qualidade. A automação e a robotização estão presentes em muitas atividades e, além da busca da eficiência produtiva, buscam atenuar a relativa escassez de mão de obra que o setor rural enfrenta. Os modernos aviários, com equipamentos automáticos de climatização em criatórios hermeticamente fechados; galpões climatizados, resfriadores de leite, estufas, armazenagem de grãos, criatórios automatizados para matrizes de aves e suínos também são fortemente demandantes de energia.

Os investimentos anunciados devem reduzir as frequentes oscilações de tensão e as quedas no fornecimento, que causam prejuízos, com perda de equipamentos e produção. Como é notório, o transtorno maior para o suprimento de energia elétrica se concentra na qualidade das redes (monofásicas) de distribuição. Os maiores percalços à produção, na zona rural, situam-se nas propriedades rurais localizadas nas pontas das redes, onde as quedas constantes da energia causam a queima e a perda de equipamentos, paralisando a produção. Os produtores rurais catarinenses têm muitas queixas em relação ao suprimento de energia elétrica nas vastas regiões agrícolas porque está se tornando um pesado custo adicional. A precariedade do sistema também não permite que os jovens tenham acesso à telefonia e internet móvel, estimulando o êxodo rural.

Por outro lado, também é justo reconhecer que o cooperativismo do ramo da infraestrutura vem dando grande contribuição, suprindo a ausência do Estado nas áreas rurais. As 39 cooperativas existentes atendem 418,5 mil usuários.

Enfim, é uma boa notícia a substituição de redes monofásicas por trifásicas e a de cabos nus por cabos protegidos na área rural catarinense, que responde por cerca de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) catarinense. Sem dúvida, dias melhores para o campo.

 Luiz Vicente Suzin, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).