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Fornecimento de milho é desafio para a competitividade da agroindústria de SC

Alternativas de transporte ferroviário de grãos para o Oeste catarinense são vitais para a sobrevivência da agroindústria, o carro-chefe da economia daquela região. O tema foi discutido na reunião híbrida da Câmara de Desenvolvimento da Agroindústria da FIESC, nesta quinta, 30. De um lado, como destacou o pesquisador da Epagri/Cepa, Aroldo Elias, o déficit de milho no estado, de cerca de 6 milhões de toneladas, deve se manter ou se elevar, dado o aumento de consumo e a estagnação da produção. De outro, como alertou o diretor de Logística de Grãos da Seara Alimentos, Arene Trevisan, estados tradicionalmente fornecedores, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, passam a ter outras opções de mercado para a venda, incluindo a facilidade logística para exportações, produção de etanol e ampliação do consumo interno.

De acordo com Elias, em 2022, a oferta de milho em Santa Catarina deve chegar a 2,2 milhões de toneladas, o menor volume dos últimos seis anos, período em que a produção alcançou picos de 3,5 milhões de toneladas (2019) ou de 3,4 milhões de toneladas (2017). Por outro lado, segundo o pesquisador, o consumo do grão vem mantendo um crescimento contínuo, que desde 2019 supera 7,2 milhões de toneladas e deverá totalizar 7,8 milhões de toneladas este ano. Desta forma, também há um crescimento constante do déficit – que se elevou de 3,3 (2017) para as estimadas 5,6 milhões de toneladas de 2022.

“Santa Catarina continua sendo um dos principais produtores de proteína animal do Brasil; resta saber se, ou até quando, as vantagens competitivas que o estado possui serão suficientes para superar as dificuldades decorrentes do crescente déficit de milho na região Sul”, observou o pesquisador. Ele constata uma tendência de elevação do preço do grão e de aumentos no valor dos fretes, crescimento consistente da demanda interna do Paraná, direcionamento da produção do Mato Grosso para o Arco Norte do país.

“Até 2016, Santa Catarina se beneficiava da falta de alternativas de transporte do milho do Mato Grosso para outras regiões do país”, afirmou Trevisan. “Hoje, se olharmos os corredores de escoamento, observamos que todos vão para os portos. Nada vem para abastecer o mercado interno”, afirma o executivo. O quadro mudou com a implantação de corredores ferroviários para portos do Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil. Entre 2010 e 2022, as cargas de grãos do Mato Grosso destinadas à exportação pela  região Norte saltaram de 2 milhões para 44 milhões de toneladas, as enviadas ao exterior via Porto de Santos aumentaram de 5 milhões para 49 milhões de toneladas e, pelo Porto de Vitória, passaram de 3 milhões para 15 milhões de toneladas. As exportações pelos portos do Sul do Brasil (14 milhões de toneladas em 2010) devem chegar a 58 milhões de toneladas em 2022.

Conforme Trevisan, a produção de etanol também vem competindo com a região Sul pelo consumo do milho. Na safra 2018-2019, foram destinadas 2 milhões de toneladas do grão para as usinas de álcool, volume que deve superar 14,5 milhões de toneladas este ano.

Paraná se tornará deficitário em relação ao milho, criando uma grande região onde o consumo será maior do que a produção, de São Paulo ao Rio Grande do Sul. Para o executivo, a competitividade da agroindústria catarinense dependerá muito de projetos de infraestrutura logística mais eficientes, melhoria das condições das rodovias existentes, remoção de entraves operacionais para a importação de milho na fronteira seca e incentivo à produção de grãos alternativos de inverno.

O presidente da Associação Empresarial de Chapecó, Lenoir Broch, destacou que as dificuldades enfrentadas pela região para o suprimento de grãos, em especial do milho, para a agroindústria motivou o apoio à construção de uma ligação ferroviária entre Maracaju-MS ao Porto de Paranaguá-PR, com ramais para Cascavel-PR e Chapecó-SC. Conforme informou, no dia 21 de junho foi lançada a consulta pública e nos próximos dias será lançado o edital de leilão da obra, cujo custo está estimado em R$ 35 bilhões. Há expectativa da participação de investidores do Japão, China ou Arábia Saudita. “Temos que lutar pela ampliação da BR 282, inclusive com sua privatização, para que possamos continuar exportando carnes pelos portos catarinenses”, acrescentou. Segundo ele, mais de meio milhão de catarinenses têm renda familiar associada direta ou indiretamente à agroindústria.

A presidente da Câmara de Desenvolvimento da Agroindústria de Santa Catarina, Irani Pamplona Peters, salientou que a FIESC continua atenta a todas as questões relacionadas à infraestrutura de transporte do estado.

 

(foto: CNA/Wenderson Araujo/Trilux)