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SC: produção de alimentos x infraestrutura

Neivor Canton, presidente da Aurora Coop e vice-presidente para assuntos do agronegócio da Fiesc.

O processamento de todas as matérias-primas que vem do campo é a atividade a qual se dedica a agroindústria. Em Santa Catarina esse setor encontra uma de suas expressões mais altissonantes na indústria de alimentos e bebidas e contribui fortemente para uma confortável situação de quase pleno emprego: a taxa de desocupação em território catarinense é de 3,9%, enquanto a do Brasil é de 9,3%.

         O setor é extremamente pujante e envolve longas e complexas cadeias produtivas como as de aves, suínos, bovinos, laticínios, pescado, nutrição animal, bebidas alcoólicas e não-alcoólicas, frutas, legumes e outros vegetais, óleos e gorduras vegetais. Sustenta 141.188 empregos formais em 4.112 estabelecimentos, conforme aferiu o Observatório da Indústria mantido pela Fiesc. As exportações atingiram 3,6 bilhões de dólares ao ano. O valor bruto da produção industrial chegou a 62,5 bilhões de reais, representando 29,7% de todo o setor industrial catarinense. É o primeiro em exportações, o segundo em geração de empregos.

Focalizando-se as duas principais cadeias produtivas da proteína animal, a suinocultura e a avicultura industrial, temos um recorte desse universo econômico que ganhou notoriedade internacional. Essas duas longas e complexas cadeias industriais sustentam mais de 60 mil empregos diretos e cerca de 480 mil empregos indiretos. A base produtiva, no campo, é formada por 66 mil estabelecimentos rurais integrados.

Na suinocultura, o Estado é o maior produtor, com abate industrial de 34 mil suínos/dia, e maior exportador do Brasil. A exportação catarinense de suínos responde por 57% das exportações brasileiras dessa proteína animal. Na avicultura, o status está consolidado como segundo maior produtor e (primeiro) maior exportador: 28% do volume total da carne de aves exportada pelo Brasil saem da indústria avícola barriga-verde, cujo abate é de 4 milhões de aves/dia.

         Quando se junta todo o conjunto – a agricultura, a pecuária e a agroindústria – sobressai de forma contundente a expressão do agronegócio para a economia estadual, pois ele responde por 31% do PIB e por 70% das exportações totais, além de bilionários investimentos anuais (somente em 2021 foram 3 bilhões de reais).

Décadas de investimentos em estruturas produtivas no campo e na indústria e um trabalho tenaz para fortalecer um sistema de produção com absoluto rigor sanitário e total confiabilidade resultaram na mais avançada suíno-avicultura do planeta. Entretanto, o imenso e extraordinário parque agroindustrial está ameaçado em sua competitividade – e, portanto, em sua permanência em solo barriga-verde – em razão das históricas deficiências infraestruturais que abalam a sua eficiência, quais sejam a ausência ou as condições precárias de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos, gasodutos (gás de uso industrial), redes de distribuição de energia no campo e na cidade, suprimento de água, etc.

         A esse conjunto de insuficiências junta-se um agravante: o gigantesco déficit de milho para alimentar a indústria da proteína animal catarinense, o que exige uma assombrosa operação anual de importação superior a 5 milhões de toneladas desse grão, de outras regiões do País e do exterior. A saída para esse desafio extra-porteira está na construção de uma ferrovia ligando o oeste catarinense (esteio das agroindústrias) ao centro oeste (maior produtor de milho do Brasil), com a construção de um ramal da paranaense Ferroeste entre Chapecó (SC) e Cascavel (PR) e com o aproveitamento de ramais já existentes. Estudo já apontou a viabilidade da obra, que deve ser privatizada por meio de leilão público dentro das diretrizes do novo marco legal das ferrovias.

         É incompreensível o déficit de investimentos em infraestrutura, especialmente quando se analisa os efeitos econômicos e sociais da indústria de alimentos. Além de gerar riqueza e sustentar empregos, essa atividade gera movimento econômico que alimenta os cofres dos municípios nas regiões onde atua, leva qualidade de vida às comunidades urbanas e rurais, contribui para o controle do êxodo de vastas regiões do hinterland e, em função das boas práticas de produção que impõe, contribui para a sustentabilidade das atividades agropecuárias e, por extensão, da preservação dos recursos naturais.