Blog do Prisco
Coluna do dia

Silêncio ensurdecedor

Pelo segundo dia consecutivo, na terça—feira, três secretários de Estado concederam coletiva de imprensa para falar sobre o escandaloso caso da compra de respiradores de uma empresa fantasma pela bagatela de R$ 33 milhões. Na segunda-feira, estiveram à disposição dos jornalistas os secretários de Administração, Controladoria e de Governança. No dia seguinte, foi a vez da Administração novamente, mais Casa Civil e Procuradoria. E segue a balela. Novamente ninguém explicou absolutamente nada. Eles falam, falam, falam e não fornecem elementos consistentes que deveriam ter embasado o negócio.
Na quarta-feira, o chefe da Casa Civil, Douglas Borba, concedeu entrevistas a veículos de comunicação. E seguiu a ladainha, sem convencer ninguém.
Mas o que mais chamou a atenção nos últimos dias foi o completo sumiço do governador Moisés da Silva. Consta que se encastelou na Casa d’Agronômica e não interage com praticamente ninguém. Muito menos com a sociedade, que clama por explicações nessa hora aguda.
Por tudo isso, não dá pra esperar nada de verdadeiro das investigações internas do governo. Seja na Polícia, na Controladoria ou na Procuradoria. O negócio é aguardar o trabalho do Gaeco e da CPI instalada na Alesc para que luzes sejam lançadas a esta compra de respiradores.

Bomba

Também na terça, houve a entrevista da servidora Márcia Pauli, exonerada de função gratificada da Secretaria de Estado da Saúde. Como já havíamos alertado, ela abriu o jogo. Sobretudo porque estão querendo transformá-la em boi de piranha, debitando tudo na conta dela. Evidentemente que Márcia cumpriu ordens. Não tinha poder e muito menos autonomia para concretizar um negócio fraudulento de R$ 33 milhões.

Abrangência

As revelações de Márcia Pauli implicam o ex-titular da Saúde, Helton Zeferino, mas atinge Douglas Borba (da Casa Civil) em cheio. Depois que o ventilador começou a espalhar ainda mais o excremento, Zeferino foi espontaneamente ao Gaeco para prestar novo depoimento. E mudou versões, entregando o seu aparelho celular. Helton Zeferino reconheceu que assinou e autorizou a compra, indo além.

Quatro frentes

Aos investigadores, o ex-secretário de Saúde declarou que Borba pressionou em favor de empresas específicas em pelo menos quatro oportunidades dentro da pasta. No caso dos respiradores, ele atuou para emplacar a vencedora. Deu certo, então, apesar de a tal empresa não reunir as mínimas condições sequer de participar de um processo de compras desta natureza. Neste front, foram para algum lugar R$ 33 milhões de dinheiro público e Santa Catarina ainda não recebeu um parafuso sequer.

Pela módica quantia de R$ 70 milhões.

Zeferino também confirmou que a indicação da empresa escolhida para a construção do natimorto hospital de campanha, em Itajaí, partiu do titular da Casa Civil.
Como a mídia denunciou suspeitas graves naquela situação do hospital, sua instalação foi suspensa. Neste projeto, seriam consumidos espantosos R$ 77 milhões. Borba, ainda de acordo com o depoimento do ex-colega de colegiado, articulou na direção de uma determinada empresa para que o governo adquirisse equipamentos de proteção individual.

Só milhões

Por fim, o secretário, que parecia se comportar muito mais como um lobista de interesses privados junto ao governo do que atuar no papel de articulador político, intercedeu para que Saúde pagasse R$ 40 milhões a apenas uma empresa dentro daquele processo de quitação da tal dívida de R$ 750 milhões que a atual gestão teria herdado das anteriores. A Secretaria de Saúde, vejam só, não reconheceu este débito milionário.

Bolada

Chegou a hora de Polícia e Ministério Público investigarem como se deu a quitação desta fortuna de R$ 750 milhões. O governo seguiu um rito, teve critério, uma cronologia para efetuas as quitações? Ou a transferência de recursos foi aleatória, de acordo com interesses outros? Será que escritórios de advocacia intercederam em favor deste ou daquele fornecedor? A sociedade precisa dessas respostas.