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Tribunais de Contas no Brasil: O Poder Dever de Fiscalização e seu Papel Orientativo e Pedagógico

 Vinícius Ouriques Ribeiro da Silva
Advogado

Pós-graduado em Controle da Administração Pública Municipal – UFSC
Pós-graduando em Direito Constitucional
Pós-graduando em Licitações e Contratos

Resumo: Este artigo analisa o papel pedagógico dos Tribunais de Contas no Brasil, destacando sua função de fiscalização das contas públicas e o potencial orientativo e educativo que podem oferecer aos municípios, especialmente os de menor porte. A gestão responsável do dinheiro público é essencial para o desenvolvimento sustentável e a promoção do bem-estar social. Neste contexto, os Tribunais de Contas têm um papel fundamental em punir irregularidades e, ao mesmo tempo, assumir uma abordagem mais educativa, auxiliando os pequenos municípios na construção de políticas de gestão responsável.

1. Introdução Os Tribunais de Contas no Brasil têm um papel fundamental na fiscalização das contas públicas e na promoção da transparência e responsabilidade na gestão dos recursos públicos. São órgãos auxiliares do Poder Legislativo, responsáveis por verificar a legalidade, legitimidade e economicidade dos atos administrativos praticados pelos gestores públicos.

Além de identificar e punir eventuais irregularidades, esses tribunais devem adotar uma abordagem pedagógica, colaborando para o aprimoramento da gestão financeira e para a capacitação dos gestores públicos. Essa atuação pedagógica pode incluir a realização de cursos, treinamentos, orientações técnicas e a divulgação de boas práticas de gestão.

A importância da abordagem pedagógica reside na prevenção de erros e desvios, uma vez que, ao instruir e capacitar os gestores sobre as normas e procedimentos legais, diminui-se a ocorrência de irregularidades. Além disso, ao promover a transparência e o acesso à informação, os Tribunais de Contas permitem que a sociedade participe mais ativamente no controle e monitoramento das ações do poder público.

Em um país tão extenso e diverso como o Brasil, é fundamental que haja um controle eficiente das contas públicas para garantir o bom uso dos recursos e o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, os Tribunais de Contas desempenham um papel crucial ao assegurar que os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência sejam respeitados na administração pública, promovendo assim uma gestão mais eficaz e voltada para o interesse coletivo.

  1. A importância da gestão responsável nos pequenos municípios Pequenos municípios muitas vezes enfrentam desafios únicos em relação à gestão dos recursos públicos. Com recursos limitados e menor capacidade técnica, essas localidades podem ser mais suscetíveis a erros e falhas na administração dos recursos financeiros. Diante disso, a atuação pedagógica dos Tribunais de Contas torna-se ainda mais relevante, buscando auxiliar e orientar os gestores municipais na adoção de boas práticas de governança e gestão responsável.

A gestão responsável nos pequenos municípios é de extrema importância para o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da população local.

Diferentemente das grandes cidades, os pequenos municípios geralmente enfrentam desafios adicionais, como falta de recursos financeiros, infraestrutura limitada e escassez de mão de obra qualificada. Nesse contexto, a gestão responsável se torna ainda mais crucial para garantir o uso eficiente dos recursos públicos, promover o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Uma das principais dificuldades enfrentadas pelos pequenos municípios é a falta de estrutura operacional adequada e qualificação especializada para lidar com as fiscalizações das cortes de contas. As cortes de contas têm o papel de verificar a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos administrativos e a correta aplicação dos recursos públicos. Porém, a falta de preparo dos gestores e servidores municipais pode resultar em erros e falhas no processo de prestação de contas, o que pode levar a punições e problemas para a administração pública local.

É fundamental, portanto, investir na capacitação dos gestores e servidores municipais, oferecendo treinamentos e cursos que abordem temas relacionados à gestão pública, orçamentária e financeira, além de conhecimentos sobre legislação e normas aplicáveis à administração municipal. Com uma equipe qualificada e bem informada, é mais provável que os municípios estejam em conformidade com as exigências das cortes de contas, reduzindo os riscos de punições e processos legais.

Além disso, é importante que as cortes de contas atuem de forma mais pedagógica e menos punitiva, especialmente em relação aos pequenos municípios. Em vez de simplesmente aplicar sanções rigorosas, é possível que as cortes ofereçam orientações, suporte técnico e feedback construtivo para ajudar os gestores municipais a melhorarem suas práticas de gestão e prestação de contas.

Uma abordagem mais pedagógica pode incentivar a transparência e a prestação de contas, criando um ambiente em que os gestores se sintam mais motivados a agir de forma responsável. Isso não significa abrir mão da fiscalização rigorosa, mas sim combinar a supervisão com o apoio para que os municípios possam se desenvolver e melhorar continuamente.

Por fim, é essencial que haja uma parceria entre os órgãos de controle, as cortes de contas, e os municípios, de forma a promover um diálogo construtivo e colaborativo. Dessa maneira, será possível enfrentar os desafios de forma mais eficaz, buscando soluções conjuntas para os problemas e trabalhando para o desenvolvimento sustentável de cada município.

A gestão responsável nos pequenos municípios é fundamental para o progresso local, e a capacitação dos gestores e servidores, aliada a uma abordagem pedagógica por parte das cortes de contas, pode contribuir significativamente para o aprimoramento da administração pública nessas localidades.

 

  1. O poder-dever de fiscalização dos Tribunais de Contas Os Tribunais de Contas possuem poder-dever de fiscalização sobre as contas públicas e a gestão dos recursos públicos. Essa função é de extrema importância para garantir a transparência, a legalidade e a eficiência na administração dos recursos públicos, bem como para prevenir casos de corrupção e mau uso do dinheiro dos contribuintes.

No entanto, é fundamental que esse poder seja exercido de forma equilibrada e responsável. Ao aplicar penalidades em caso de irregularidades, os Tribunais de Contas devem levar em consideração a proporcionalidade das sanções, evitando excessos punitivos que possam prejudicar a capacidade de recuperação dos pequenos municípios.

Pequenos municípios muitas vezes têm orçamentos limitados e recursos escassos para lidar com desafios administrativos e financeiros. Exigir o mesmo rigor em relação aos grandes centros urbanos pode ser injusto e até mesmo inviabilizar a prestação de serviços públicos essenciais nessas localidades.

Portanto, é importante que os Tribunais de Contas tenham sensibilidade para analisar a situação específica de cada município, levando em conta suas peculiaridades e dificuldades. Além disso, devem buscar não apenas punir irregularidades, mas também oferecer orientação, apoio técnico e capacitação aos gestores municipais para que possam melhorar suas práticas de gestão.

O objetivo da fiscalização não é apenas punir, mas também corrigir e prevenir falhas. Ao trabalhar em conjunto com os gestores municipais e oferecer suporte adequado, os Tribunais de Contas podem contribuir para o fortalecimento da gestão pública e a melhoria dos serviços prestados à população.

É essencial que haja um equilíbrio entre a responsabilização por irregularidades e a compreensão das dificuldades enfrentadas pelos pequenos municípios. Dessa forma, será possível promover uma gestão mais eficiente e transparente, sem comprometer a capacidade dessas localidades de cumprir suas obrigações e atender às necessidades da comunidade.

 

  1. O papel orientativo e pedagógico dos Tribunais de Contas A abordagem orientativa e pedagógica dos Tribunais de Contas é fundamental para promover o desenvolvimento local sustentável e melhorar a gestão pública nos municípios. Em vez de apenas atuarem de forma reativa, aplicando penalidades após a ocorrência de irregularidades, esses órgãos podem desempenhar um papel mais proativo na busca por soluções e na prevenção de problemas futuros.

Ao oferecer capacitação técnica, orientações e ferramentas para os gestores públicos, os Tribunais de Contas contribuem para o fortalecimento das capacidades de administração dos municípios. Isso pode incluir cursos de capacitação, workshops, guias de boas práticas, entre outros recursos, que auxiliam na melhoria da gestão dos recursos públicos e no alinhamento das ações com as normas e regulamentações aplicáveis.

Essa postura proativa também ajuda a construir uma cultura de transparência e responsabilidade na administração pública. Ao fornecer diretrizes claras e informações sobre como proceder de acordo com a legislação, os Tribunais de Contas incentivam uma atuação mais ética e responsável dos gestores municipais. A transparência também é promovida ao compartilharem publicamente informações sobre os resultados das auditorias e das orientações oferecidas.

Além disso, ao auxiliarem na melhoria da eficiência na gestão dos recursos públicos, os Tribunais de Contas colaboram para o desenvolvimento sustentável das comunidades locais. Com uma gestão mais eficiente e responsável, é possível obter melhores resultados em áreas como saúde, educação, infraestrutura, meio ambiente, entre outras, impactando positivamente a qualidade de vida dos cidadãos.

A abordagem orientativa e pedagógica dos Tribunais de Contas vai além do mero controle e fiscalização, transformando-se em uma oportunidade de parceria com os gestores municipais para promover a melhoria contínua da administração pública. Essa postura contribui para o fortalecimento da governança, para a promoção da transparência e para o desenvolvimento sustentável das comunidades locais.

 

  1. Punir e ensinar: uma nova abordagem dos Tribunais de Contas Punir irregularidades é importante para garantir a responsabilidade dos gestores públicos e inibir comportamentos inadequados, mas uma abordagem mais abrangente e educativa é essencial para prevenir tais irregularidades e promover uma gestão pública mais responsável e eficiente.

Os Tribunais de Contas têm um papel muito importante na fiscalização das ações dos gestores públicos e na correção de eventuais desvios, mas a atuação desses órgãos não deve se limitar apenas a aplicar punições após o problema ocorrer. É preciso também investir em programas e iniciativas que visem a capacitação dos gestores municipais, a orientação sobre melhores práticas de gestão e o fornecimento de suporte técnico.

Ao adotar uma abordagem mais educativa, os Tribunais de Contas podem contribuir significativamente para uma mudança cultural e institucional nas esferas da administração pública. Isso implica em incentivar uma cultura de transparência, responsabilidade e ética na gestão dos recursos públicos, de forma a evitar desperdícios, corrupção e outros comportamentos inadequados.

Além disso, é importante que os Tribunais de Contas trabalhem em parceria com outras instituições, como as escolas e universidades, para promover a educação cívica e a formação de uma consciência cidadã, desde os níveis mais básicos até os de formação superior. Dessa forma, a população estará mais bem informada e engajada, o que pode resultar em uma pressão social mais efetiva para a promoção da gestão responsável.

Também é fundamental investir em tecnologias e sistemas de controle e monitoramento mais eficientes, que permitam uma análise mais precisa e em tempo real das informações financeiras e orçamentárias dos órgãos públicos. A tecnologia pode ser uma aliada poderosa na prevenção de irregularidades e no aumento da eficiência da gestão pública.

Em resumo, a abordagem educativa e preventiva dos Tribunais de Contas é uma estratégia fundamental para complementar a punição de irregularidades e para promover uma gestão pública mais responsável e transparente em todos os níveis. Essa atuação mais ampla pode contribuir significativamente para o desenvolvimento do país e para a construção de uma administração pública mais eficiente e ética.

 

  1. Conclusão Os Tribunais de Contas no Brasil têm um papel fundamental no controle externo das contas públicas e na prevenção da corrupção e má gestão dos recursos públicos. Essa função é essencial para garantir a transparência e a eficiência na administração dos recursos públicos, bem como para assegurar que os gestores públicos atuem de acordo com os princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência.

Além do aspecto fiscalizador, é muito importante que os Tribunais de Contas também adotem uma abordagem orientativa e pedagógica, especialmente quando se trata de municípios menores e com menor capacidade administrativa. Muitos desses municípios enfrentam desafios específicos, como falta de recursos humanos especializados, limitações orçamentárias e dificuldades para cumprir todas as exigências legais.

A abordagem inovadora, que inclui a orientação e o suporte aos pequenos municípios, pode ser extremamente benéfica. Ela ajuda essas localidades a compreenderem as melhores práticas de gestão financeira e administrativa, bem como a identificar e corrigir problemas antes que se tornem graves irregularidades.

Essa atuação orientativa pode incluir:

– Capacitação e treinamento: Oferecer cursos, workshops e capacitações para os gestores públicos e servidores municipais, com foco nas áreas de contabilidade pública, licitações, transparência, prestação de contas e gestão de recursos.

– Disponibilização de guias e manuais: Produzir material educativo, como guias, manuais e cartilhas, que explicam os procedimentos contábeis e administrativos de forma clara e acessível.

– Acompanhamento técnico: Realizar visitas técnicas aos municípios para identificar problemas, esclarecer dúvidas e sugerir melhorias.

– Troca de experiências: Promover encontros e fóruns de discussão entre os gestores de diferentes municípios, para que possam compartilhar experiências e boas práticas.

– Incentivos à transparência: Estimular a adoção de práticas transparentes, como a publicação de dados e informações relevantes em sites oficiais.

– Ao adotar essa postura mais orientativa e pedagógica, os Tribunais de Contas podem ser agentes efetivos na melhoria da governança pública, no fortalecimento da gestão responsável e no desenvolvimento sustentável dos municípios. Isso também contribui para o fortalecimento da democracia, pois permite uma maior participação dos cidadãos na fiscalização e no controle dos gastos públicos.

É importante ressaltar que a atuação dos Tribunais de Contas deve ser pautada pela imparcialidade e independência, garantindo que suas ações sejam focadas no interesse público e no bem-estar da sociedade como um todo. Essa combinação de fiscalização rigorosa com apoio e orientação pode fazer uma grande diferença na qualidade da gestão pública em todo o país. Ganham os municípios. Ganha a população.

 

 

  1. Referência Bibliográfica

 

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Hennemann, Gustavo. Função Pedagógica dos Tribunais de Contas – Videos I e II. Pós-Graduação em Direito, Políticas Públicas e Controle Externo.

 

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https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/12700/Os-Tribunais-de-Contas-e-a-Constituicao-Federal-de-1988

https://www.migalhas.com.br/depeso/370700/a-funcao-pedagogica-dos-tribunais-de-contas-na-nova-lei-de-licitacoes

 

NASCIMENTO, Jaqueline Gonçalves do. O Papel Pedagógico/Orientativo dos Tribunais de Contas.

SANTOS, Luis Alberto dos et. al. Perspectivas para o controle social e a transparência da administração pública. In: Prêmio Serzedello Corrêa 2001 – monografias vencedoras. Brasília: TCU, Instituto Serzedello Corrêa.