Blog do Prisco
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Do Ribeirão da Ilha ao Mercado Público: Hermínio uma história de vida!

Hermínio Antônio da Silva Netto

No veranico de maio de 1925, as águas do mar batiam mansamente na areia da praia na Freguesia do Ribeirão da Ilha em Florianópolis. Ao badalar dos sinos da Igreja da Nossa Senhora da Lapa, Santa Padroeira da comunidade, da qual nosso personagem é devoto de carteirinha, nascia no dia 10.05.1925   Hermínio Antônio da Silva Netto. Seus pais, Valdemar Joaquim da Silva (in memoriam) e Maria Carlota Cordeiro da Silva (in memoriam). Seus irmãos Nilton Valdemar da Silva (in memoriam), Waldemar Joaquim da Silva Filho – O Caruso – (in memoriam), Lázaro Valdemar da Silva (in memoriam), Jandira da Silva Bittencourt (in memoriam), Nilta Maria da Silva, Maria do Carmo Silva Fedrigo (in memoriam) e Dinah da Silva Gonçalves (in memoriam).

O pai Valdemar, era um homem de visão e desbravador, exercia diversos ofícios, dentre os quais, a pesca, construir faróis sinalizadores de embarcações em ilhas desertas e o comércio. Negociante de peixes, das décadas de 1930 a 1940, numa canoa a remo, e quando tinha vento, à vela, trazia fruto do seu suor, o peixe, desde o Ribeirão da Ilha até o Mercado Público (quando as águas do mar ainda batiam nas suas paredes) no centro de Florianópolis, para ser comercializado nas bancas  e saciar a fome de muitos ilhéus.

Hermínio, filho mais velho dos homens, acompanhou seu pai Valdemar em todos esses movimentos, herdando de seu progenitor o ofício do comércio. Desde muito cedo na adolescência, ajudando na labuta diária, pegou o gosto pelo comércio no Mercado Público e dali fez o seu ofício, que o acompanharia por mais de 40 anos… Relembrar todos os momentos de convivência com esta pessoa maravilhosa, é como olhar para o interior da gente e ver a exteriorização do exemplo, e legado que plantou. Um legado de muitas lutas acima de tudo, procurando atender bem e com polimento todos os clientes de diversas classes sociais, e também saciando a fome dos mais humildes, num ato de fraternidade, dentro de suas limitações.

Exemplo de benevolência, herdado de seu pai Valdemar e transmitido também para seus irmãos, contado pelos vizinhos da mercearia, ocorria quando as crianças, que cuidavam dos carros no estacionamento no aterro, com fome, muitas vezes só conseguiam dinheiro para comprar o pão. Contam que estas crianças vinham na mercearia do Hermínio e faziam fila; sensibilizado com aquela situação, quase todos os dias colocava sempre manteiga ou margarina, fatia de queijo e/ou presunto, linguiça Blumenau…para incrementar a alimentação e satisfazer a fome das crianças. Passados cerca de mais de 20 anos, tive o prazer de ir com meu pai Hermínio novamente no mercado público e presenciei o encontro dele com um desses meninos, que ajudou a saciar a fome naquela época. Foi emocionante, uma vez que aquele menino, que já havia virado homem de perto de 30 anos, veio em direção ao pai, abraçou e disse: “o senhor não se lembra mais de mim, mais eu lembro muito do senhor seu Hermínio. Se hoje tenho um trabalho e dignidade, foi porque o senhor seu Hermínio,  foi uma dessas pessoas benevolentes que me estendeu a mão, aconselhou e ajudou a saciar a fome no momento que eu e meus irmãos mais precisávamos”. Não precisa nem falar do desfecho desta história, simplesmente as lágrimas de emoção rolaram no rosto do menino, hoje homem e de nosso querido pai Hermínio, pelo reconhecimento.

Completou o 2º Grau na Academia do Comércio no período noturno, com muita dificuldade, em função do pouco tempo que sobrava para estudar, acordava sempre às 05 (cinco) horas da manhã para o trabalho no mercado público. Infelizmente não teve condições de fazer um Curso Superior, mas por outro lado não mediu esforços e propiciou condições para que todos os seus filhos concluíssem Curso Superior na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, numa época em que o vestibular era muito concorrido, não existiam quase universidades no interior do estado.

Ao seu lado sempre presente uma mulher dócil, dedicada e guerreira, sua esposa e eterna companheira Maria Eunice da Silva, com a qual edificou sua família e teve os filhos: Dalton da Silva – Professor IFSC e Doutorado em Engenharia Civil (in memoriam) , Waldemar Joaquim da Silva Netto(Médico), Roberto da Silva (Graduação em Arquitetura), Hermínio Antônio da Silva Filho(Professor do curso de Direito-UNIBAVE, Graduado em Administração e Ciências Contábeis e  Doutorado em Direito) e Raquel Patrícia da Silva (Graduada em Geografia).

Seu legado ainda maior foi para a Ornitologia Catarinense, sócio da Associação Catarinense de Ornitologia (ACO) por mais de 60 anos dedicados a criação de canários Roller de cor. Tinha um amor todo especial pelos pássaros, ainda hoje adora ouvir o canto dos pássaros pela manhã e no final da tarde, reconhecendo pela melodia o cantar de cada um, ainda que de longe. Sagrou-se várias vezes campeão de canários Roller de cor de Florianópolis, com canários premiados ainda nos certames Estadual, Nacional e Mundial.

Torcedor apaixonado pelo Botafogo Futebol e Regatas (RJ) e do Figueirense Futebol Clube – Florianópolis. No Figueirense Futebol Clube, sócio benemérito do clube, nutriu um sabor todo especial, viveu mais de perto e intensamente, tendo firmado inúmeras amizades, inclusive com vários membros da diretoria. Seu cunhado Carlos Ângelo Fedrigo foi Presidente do Clube na década de 1960, seu irmão Waldemar Joaquim da Silva Filho(Caruso) foi orador, Nilton Valdemar da Silva foi Conselheiro e Lázaro Valdemar da Silva foi sócio. Frequentou inúmeras vezes o Estádio Orlando Scarpelli para torcer pelo Figueirense Futebol Clube, amor incondicional por toda uma existência, transmitido para a esposa, filhos e netos.

Participou ativamente da vida social da cidade, frequentava os Clubes Sociais do centro de Florianópolis (Clube Doze de Agosto e Lira Tênis Clube) – juntamente com seus irmãos e esposas. Tinham como hobby na época de namoro ainda assistir filmes nos cinemas da cidade, frequentar os restaurantes e dançar na Boate do Plaza.

Um de seus maiores prazeres, nas horas de lazer era de frequentar a casa de praia no Ribeirão da Ilha, em que se entretinha em pescar cocoroca, cuidar do bananal, plantar fruta do conde, laranjas, mamão, abacaxi. Corta o terreno uma cachoeira que desce do Morro do Ribeirão, onde gostava de sentar nas pedras, ficando horas ouvindo o canto dos pássaros e o som das águas que corriam para desaguar no mar…

Muito teria que escrever sobre Hermínio Antônio da Silva Netto, pai exemplar, que completou 97 anos de existência no dia 10.05.2022, mas do fundo do coração externar a alegria de poder conviver com tão amável pessoa. Desejo acima de tudo muita saúde e felicidade para continuar a perpetuação da vida ao lado de sua amada e guerreira esposa Maria Eunice da Silva, filhos, família e amigos.

Por Hermínio Antônio da Silva Filho – Professor, advogado e administrador