Blog do Prisco
Artigos

Para onde iremos

Aquele conhecido problema de falta de vagas em creches começa a dar lugar a um outro, para o qual certamente não estamos estruturalmente preparados: a falta de vagas em asilos – ou instituições de longa permanência, para utilizar o nome correto. O aumento da longevidade do brasileiro – em especial em Santa Catarina, número 1 nesse ranking – é fato a ser comemorado, mas traz à tona essa deficiência. O Brasil vai dobrar a população idosa de 10% para 20% da sua população nos próximos 19 anos. Em termos práticos, vamos viver, em média, 30 anos a mais que nossos avós.

Além de estarmos indo mais longe, estamos experimentando uma transformação na configuração familiar, com mais mulheres trabalhando fora e casais com menos filhos. Isso diminui as possibilidades de muitas famílias em manter seus idosos sob cuidados em casa. Sem ter como permanecer com seus pais ou avós, muitos optam por instituições que prestem esses cuidados, o que deve ser visto como um ato de amor, não de abandono. Ocorre que nem sempre há boas instituições disponíveis na rede pública. Na rede privada elas existem, mas cobram um preço alto.

Esse tema, do acolhimento ao idoso, já deixou de ser uma preocupação futura. É um assunto urgente, que deve estar, inclusive, nos debates eleitorais. O Ministério de Desenvolvimento Social aponta que, desde 2012, o número de idosos em abrigos conveniados aos estados e municípios cresceu 33%. Eram 45,8 mil há cinco anos e em 2017 eram 60,9 mil. Outra pesquisa, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mostra que em 2011 havia 83 mil idosos em abrigos públicos e privados, e a estimativa é que hoje esse número esteja em 100 mil. Em paralelo, não temos a cultura de poupar para o futuro, o que também agrava o problema. O fato é que o país vai envelhecer antes de enriquecer.

Com maior ou menor grau de dependência, nossos idosos merecem e precisam de cuidados especiais, e isso requer recursos. Num estado já inchado, que pena para dar conta dos serviços essenciais, este é um problema que precisa ser debatido e encarado de frente. Se não houver os cuidados necessários, corremos o risco de criar “depósitos” nos quais nossos idosos tenderão a piorar suas funções cognitivas. Levando-se em consideração que muitos deles já não conseguem se comunicar, o risco de maus cuidados é real e não pode ser tolerado.

Algumas alternativas interessantes têm surgido em municípios isolados, em que as instituições acolhem os idosos durante o dia, enquanto os familiares estudam e trabalham, e os mesmos podem voltar ao convívio dos seus à noite. Isso diminui os custos da instituição e permite estender a convivência familiar. Pelo mundo também temos boas práticas a nos inspirar. A Holanda, por exemplo, supera as dificuldades investindo na prevenção e inovação e empoderando o idoso para que decida o que melhor lhe convém, levando em consideração se é rico ou pobre, se tem ou não uma rede familiar em seu entorno.

Exemplos existem, mas só serão postos em prática se a sociedade abraçar essa causa, puxar esse assunto e trabalhar por providências em harmonia entre o poder público e a iniciativa privada. É nossa obrigação cuidar bem de quem nos cuidou.

Antonio Gavazzoni, advogado e doutor em Direito Público

[email protected]